Alzira Willcox de Souza
Falo especialmente com os professores.
Professor, migrante digital, como a maioria? E então, como ajustar-se?
Há os nativos – os que nasceram sob a égide da era digital, da comunicação instantânea. São os que pertencem à geração Z.
E há os migrantes digitais – aqueles que nasceram antes da década de 80 e tiveram que aprender a usar tecnologia ao longo da vida. São os que pertencem à geração X.
Muitos migrantes, da geração X, encontram-se na posição de professores, tendo que lidar com os nativos, da geração Z.
Mas os neurocientistas afirmam que a troca pode ser benéfica, embora fique claro que o relacionamento dos nativos digitais com o mundo seja bem diferente daqueles que vieram antes. Pesa a favor a experiência da geração X.
E pode haver aproveitamento na troca?
Sim, claro! Não basta usar ferramentas modernas. É preciso mais, é preciso encontrar tecnologias que complementem a proposta da escola, que representem o novo, não só a lousa digital ou o pilot no lugar do giz. Não só munir os alunos de tablets.
O que fazer, então?
Adotar uma nova forma de propor o conteúdo a ser ensinado. Estabelecer nova relação do aluno com o conteúdo. A gamificação, a aprendizagem personalizada, blended learning e outras técnicas são bons exemplos. Estão ao alcance do professor para captá-las e aplicá-las. Não são um “bicho de sete cabeças” como diziam os mais velhos.
Enquanto a gente achar que o protagonismo da sala de aula é só do professor, que ele é o único responsável por inserir tecnologia, ela continuará não sendo inovação. Permanecerá engessada em algumas propostas sem objetivo que não seja a ideia de estar usando tecnologia. Pergunte, chame seus alunos e diga: ‘quero trabalhar esse tema de um jeito diferente, o que eu posso fazer?’. Eles com certeza terão dezenas de ideias, afinal, eles são os nativos.
Sabemos – e falo por mim – que professores são resistentes ao novo, preferem ficar com a metodologia que dominam a terem que se arriscar em algo novo. É mesmo um tanto assustador. Admito. Mas é também muito recompensador.
Quando trabalhei como coordenadora e, mais tarde, supervisora de uma escola particular, vivi momentos singulares. Havia uma professora mais experiente que ousava em sala de aula o tempo todo. Estou falando da década de 70. Mudava a arrumação da sala; colocava as carteiras em duplas, em círculos, num grande círculo e também tinha os cantinhos. Cantinhos variados, cantinho da ciência, o cantinho da leitura e até o cantinho de brincar. Sim, os alunos que iam terminando as atividades propostas podiam escolher o cantinho que quisessem e podiam ir sim para o cantinho de brincar. Essa professora certamente adotaria as novas ferramentas tecnológicas se estivesse na ativa hoje, embora pertencente à geração X, sem medo de arriscar, aplicando às novas técnicas toda a sua experiência.
Outra professora, bem mais nova, com a bagagem de ter trabalhado numa escola conservadora, relutou à proposta de mexer na arrumação da sala de aula, de ousar mais nas suas propostas para a turma. E devagarzinho foi vencendo as próprias resistências, tornando-se entusiasta de novas propostas. Feliz porque venceu seu medo de arriscar.
Esses dois exemplos eu trouxe para ilustrar o que afirmo nos parágrafos iniciais. O professor tem, algumas vezes (talvez a maioria), que trabalhar com alunos de outra geração. E se veem aturdidos com as novas ferramentas tecnológicas. O modelo de escola que conhecem é outro onde não entra o celular, por exemplo. O que fazer diante de uma turma que domina as tecnologias da internet e passa grande parte do tempo mergulhada nas redes sociais? Usar ou tentar usar a sua autoridade, se desgastar ou mergulhar também no novo paradigma para aprender e se sentir confiante e apto a trabalhar com os alunos da geração Z?
É isso ou a escola estará sempre defasada no século XXI. Alunos desmotivados, professores também. Sei que há algumas dificuldades, há barreiras, mas quem se propõe a mudar e a fazer diferente pode se dedicar a estudar, a mergulhar no novo, a aprender com os alunos e sentir prazer em trabalhar usando as novas ferramentas, visitando plataformas educacionais, atualizando-se. E, nesse ponto, lembro que a escola não pode estagnar como transmissora de conhecimentos porque isso, hoje, é função do Google.
Alzira Willcox de Souza