Alzira Willcox
Vida moderna, correria, pais assoberbados, mil e uma obrigações, e-mails às toneladas pra responder, o whatsapp chamando – grupos de trabalho, de mães da escola das crianças, de família, de amigos. E o celular vai junto para a mesa na hora da refeição, talvez a única em que a família está reunida.
E as crianças? É melhor que comam antes; se quiserem comer vendo televisão, o que é que tem? Precisamos de sossego. E, definitivamente, crianças à mesa são certeza de embates – sente direito, segure direito o talher, não separe os legumes, olhe só, está derrubando comida no chão, coma com vontade, não vai ter sobremesa… Esse quadro soa familiar? Acredito que sim, muda o endereço e a cena continua a mesma.
Anne Fisher é terapeuta de família à frente do The Family Dinner Project, algo como: projeto de jantar em família. Ela é professora da Harvard Medical School. Como terapeuta de família ela frequentemente foi tomada pelo impulso de dizer às famílias: vão pra casa e reúnam a família para jantar, algo efetivamente mais eficaz do que gastar uma hora com terapia.
Hoje são 20 anos de pesquisa nos Estados Unidos, Europa e Austrália e a certeza de Anne Fisher tornou-se mais robusta. Agora ela é entusiasta dos jantares em família. Por quê? Ela concluiu que sentar para uma refeição em família à noite é ótimo para o cérebro, o corpo e o espírito. À noite, supostamente, todos já chegaram a casa, fecharam seus compromissos diários. E não precisa ser uma refeição gourmet, diz ela. Nenhum cardápio excepcional e nem é preciso estender o jantar por horas a fio.
A pesquisa dividiu os benefícios da refeição em família, em três grupos. Observando principalmente crianças e adolescentes.
1. Benefício para o cérebro
Ficou comprovado que as crianças pequenas têm o seu vocabulário aumentado. Conversa em família faz mais efeito do que ler um livro de histórias. Se uma família se dispõe realmente a conversar durante o jantar, há notável enriquecimento do vocabulário dos que estão à mesa. E um lembrete: crianças que têm um bom vocabulário geralmente aprendem a ler com mais facilidade. Crianças mais velhas também de beneficiam dos jantares em família. Concluíram ainda que os adolescentes melhoram inclusive o seu desempenho escolar. E pasmem, até o desempenho acadêmico é contemplado, melhorando consideravelmente.
2. Benefícios para o corpo
Crianças que sentam à mesa com a família comem melhor, em geral consomem vegetais, frutas, sucos e vários nutrientes necessários ao seu crescimento saudável. Certamente se tornarão adultos mais saudáveis, sem risco de obesidade. Isso, claro, se a família cultiva hábitos alimentares saudáveis. Caso contrário, abusarão de batatas fritas, refrigerantes e correrão o risco de obesidade.
Alguns pesquisadores fizeram uma conexão entre os jantares familiares e a redução de alguns sintomas de transtornos médicos, como asma. Certamente devido à diminuição da ansiedade e ao acompanhamento possibilitado pela proximidade ao dia a dia da criança.
Interessante que se registre que não foi unicamente a presença de uma alimentação saudável que promoveu todos os benefícios percebidos na pesquisa. Percebeu-se a importância da atmosfera, do clima familiar – pais amorosos, calorosos e empenhados em tornar o ambiente agradável, dando um bom exemplo, apreciando alimentos saudáveis, estimulam e isso importa mais do que controle excessivo e ameaças restritivas (Não vai ter sobremesa!).
Mas tudo de que falamos se esvai se mantiverem a TV ligada durante a refeição ou os celulares forem trazidos à mesa durante o jantar. Estamos falando de uma pesquisa acerca dos benefícios das refeições em família, em torno da mesa, no jantar porque é quando provavelmente há mais chance de todos estarem presentes. Um momento de conversas amigáveis, de assuntos interessantes. Nada de confrontos ou cobranças.
3. Benefícios para o espírito
Associam-se ainda as reuniões de famílias às refeições ao crescimento de boas atitudes, bom comportamento entre os jovens, inclusive na adolescência em que é mais comum a rebeldia. E esses jovens, segundo a pesquisa demonstram uma boa perspectiva para o futuro.
Mas afinal, que descoberta é essa? O que pode haver de tão mágico e transformador em promover jantares em família?
Acontece que a vida está cada vez mais corrida, o tempo escoa entre nós com muita rapidez. As famílias não se reúnem mais; cada um faz refeição em determinada hora, apressadamente. Famílias há que, vivendo na mesma casa, comunicam-se por whatsapp. Uau!
Óbvio que a verdadeira mágica, o real poder dos jantares reside na qualidade de possibilitar relações interpessoais na família. Ora, se a família se sentar à mesa numa silêncio pétreo, se houver provocações, discussões ou gritos, se os pais começam a repreender as crianças todo o tempo, não haverá benefício algum. Dividir uma boa carne assada não vai transformar a relações familiares. Mas o jantar pode ser um momento harmonioso do dia, um momento em que pais e filhos troquem experiências positivas, contem piadas, quem sabe uma história… E esses momentos podem ganhar força e robustecer as conexões fora da mesa.
Que tal experimentar?