Um modelo adequado para entender a boa integração tecnológica

Alzira Willcox (adaptação)

Para se ter uma boa integração tecnológica basta usar a ferramenta mais sofisticada, é estar ciente do leque de opções e escolher a estratégia (ou estratégias) certa para a aula que se vai dar.
O maior obstáculo para o ensino on-line provavelmente não é a tecnologia. De fato, os professores buscam a tecnologia educacional, porque ela pode ​​ter impactos positivos consideráveis ​​no desempenho dos alunos como facilitadora do processo de aprendizagem. O grande problema é como integrar o ensino on-line – além do grande número de ferramentas tecnológicas disponíveis, temos que apontar claramente o treinamento profissional inadequado como o principal obstáculo ao uso produtivo da tecnologia nas salas de aula.
Compreensivelmente, o surgimento do coronavírus acelerou drasticamente o processo de integração da educação tecnológica e educadores de todo o país correram para trabalhar on-line o mais rápido possível. Mas, como muitos de nossos professores puderam observar, o modelo atual de aprendizado on-line do ensino infantil, fundamental e médio foi implantado como uma forma de gerenciamento de crise – e nem pôde ser processado como educação a distância gerenciada com habilidade.
O que está faltando na conversa no momento, o que faz sentido, devido ao imediatismo da necessidade, é um foco na questão maior sobre como realmente é a integração da tecnologia da mais alta qualidade. É uma conversa importante, porque, em um mundo pós-coronavírus, é provável que haja uma ênfase maior no aprendizado digital quando voltarmos às escolas físicas e lidarmos com o ensino presencial.
UMA HIERARQUIA DE USOS DE TECNOLOGIA
Uma ferramenta conceitual poderosa para pensar na integração de tecnologia – e nos melhores usos da educação tecnológica – é o modelo SAMR, desenvolvido em 2010 pelo pesquisador educacional Ruben Puentedura, que recebeu em 1991 o prêmio Phi Beta Kappa de ensino.
O modelo SAMR estabelece quatro níveis de aprendizado on-line, apresentados aproximadamente em ordem de sofisticação e poder transformador: substituição, aumento, modificação e redefinição. Ao mudar para um formato on-line, os professores geralmente se concentram nos dois primeiros níveis, que envolvem a substituição de materiais tradicionais por digitais: converter atividades e planilhas em documentos e PDFs e publicá-las on-line, ou gravar palestras em vídeo e disponibilizá-las para aprendizado assíncrono por exemplo.
Para nós aqui no Brasil o modelo SAMR é novidade. Aqui mergulhamos na tecnologia como carros que pegam “no tranco”.
O modelo SAMR pode ajudar os educadores a pensar sobre o papel da tecnologia no suporte à aprendizagem.
Essas são etapas importantes, especialmente quando se ensina on-line pela primeira vez, mas, nas salas de aula em que a integração tecnológica passou para o nível de domínio, os dois últimos níveis do modelo SAMR – modificação e redefinição – também devem estar presentes. Os alunos das turmas em que esse tipo de domínio está incorporado encontram usos mais inovadores e imersivos para a tecnologia. Eles são criadores e editores de seu próprio trabalho em várias formas de mídia, por exemplo, ou estão convidando profissionais para fornecer feedback sobre seus produtos de trabalho ou participando de fóruns digitais com outros colegas de todo o mundo. Isso ainda está longe de acontecer aqui no Brasil.
É tentador pensar no SAMR como uma montanha a ser atingida. Mas uma boa integração tecnológica não é viver no topo do modelo SAMR; trata-se de conhecer o leque de opções e escolher a estratégia ou estratégias corretas para a matéria ou aula em questão.
A seguir, vamos analisar as boas práticas em sala de aula em cada nível do modelo.
SUBSTITUIÇÃO
“Substituição” significa substituir atividades e materiais tradicionais – como palestras em sala de aula ou planilhas em papel – por versões digitais. Não há alterações substanciais no conteúdo, apenas na maneira como ele é entregue.
O objetivo aqui é manter as coisas simples: não há necessidade de reinventar a roda. Digitalizar atividades e planilhas e publicá-las on-line usando a ferramenta adequada que pode encontrar no Google, como um serviço de compartilhamento de arquivos. Pense nas informações que você possui em suas paredes, como as normas da sala de aula, a programação diária ou as listas de vocabulário, e converta-as em formatos digitais os quais os alunos podem facilmente acessar.
Também pode ajudar a fornecer versões síncrona e assíncrona de suas palestras. Se você estiver realizando reuniões de classe por meio de um serviço de videoconferência como Zoom ou Skype, forneça uma gravação para os alunos que não podem comparecer. Você também pode criar seus próprios vídeos instrutivos para os alunos visualizarem no seu próprio ritmo.
AUMENTO
Esse nível envolve a incorporação de aprimoramentos digitais interativos e elementos como comentários, hiperlinks ou multimídia. O conteúdo permanece inalterado, mas agora os alunos podem aproveitar os recursos digitais para aprimorar a aprendizagem.
Por exemplo, os alunos podem criar portfólios digitais para apresentações multimídia, assimilando mais opções para demonstrar sua compreensão de um tópico. E, em vez de distribuir testes de papel, você pode gamificá-los com ferramentas como Socrative e Kahoot.
Os professores também podem criar quadros de avisos virtuais – usando um aplicativo como Padlet – onde os alunos podem postar perguntas, links e fotos.
MODIFICAÇÃO
Nesse nível, os professores podem pensar em usar um sistema de gerenciamento de aprendizado como Google Classroom para lidar com os aspectos logísticos da administração de uma sala de aula, como acompanhar notas, enviar mensagens aos alunos, criar um calendário e publicar tarefas.
O ensino on-line abre novos canais de comunicação, muitos dos quais podem ajudar os alunos tradicionalmente marginalizados. Pesquisas mostram que as meninas podem ter menos chances de se manifestar na sala de aula, por exemplo e passam a se beneficiar dos canais de retorno – conversas alternativas que podem ser acompanhadas de instruções que incentivam a participação.
Enquanto isso, o recurso de bate-papo por texto de Zoom oferece aos alunos a oportunidade de escrever suas perguntas, o que pode parecer menos intrusivo se houver dezenas de estudantes participando da chamada. Além disso, os alunos que preferem reunir seus pensamentos podem se beneficiar de discussões assíncronas e de ritmo mais lento em um fórum on-line ou tópicos de e-mail.
REDEFINIÇÃO
O aprendizado é fundamentalmente transformado no nível de “redefinição”, possibilitando atividades que antes eram impossíveis na sala de aula.
Por exemplo, colegas virtuais podem conectar estudantes a outras partes do mundo, seja com outros estudantes ou especialistas em um campo. As viagens de campo virtuais permitem que os alunos visitem locais como a floresta amazônica, o Louvre ou as pirâmides egípcias. Depois de ler um livro na sala de aula, você pode convidar o autor para conversar sobre o trabalho deles e responder a perguntas.
A tecnologia também oferece a oportunidade de atrair audiências autênticas para a sua sala de aula virtual e compartilhar experiências enriquecedoras. As crianças podem escrever seus próprios wikis ou blogs para consumo e feedback do público – e plataformas como o Quadblogging podem conectar salas de aula distantes para que os alunos escrevam e respondam. Os alunos podem lidar com problemas locais – como investigar a qualidade da água de um rio próximo – e convidar membros da comunidade para avaliar suas propostas digitais.
Nesse estágio mais avançado, há muitos desafios para nós aqui no Brasil. Alguns programas não são conhecidos, nem todas as escolas têm boa conexão e não há muitos professores e técnicos pedagógicos tecnologicamente capacitadas
INDO ALÉM DO SAMR
Por fim, considere como a tecnologia pode ser usada não apenas como uma maneira de fornecer conteúdo, mas também para fortalecer o relacionamento com seus alunos. As ferramentas permitem estreitar laços nesse momento tão delicado mundialmente. Por exemplo o professor pode compartilhar uma saudação diária, à qual seus alunos respondem – ou um ao outro – com um comentário digitado ou verbalizado. É uma boa maneira de fornecer alguma estabilidade enquanto eles estão isolados.
Lembre-se, novamente, que o SAMR às vezes é visto como uma montanha para o cume, mas é realmente mais como uma caixa de ferramentas. O objetivo não é usar a ferramenta mais sofisticada, mas encontrar a ferramenta certa para o trabalho. Mais importante, porém, é uma maneira de refletir sobre sua integração com a tecnologia, pensando em algumas perguntas importantes:
– Como minha aula pode ser aprimorada usando a tecnologia?
– Como posso envolver e capacitar os alunos por meio da tecnologia?
– Como o aprendizado on-line pode se aproximar mais do aprendizado presencial?
– Como posso detectar dificuldades dos alunos e encontrar meios de saná-las?
O momento pegou a todos de surpresa e talvez só a minoria estivesse tecnologicamente preparada. Mas é preciso que o professor e dirigentes de escola ajam e habilitem-se para se capacitarem cada vez mais e melhor porque a tecnologia veio para ficar na Educação.
E quando as aulas presenciais voltarem não se pode esquecer a experiência de aulas on-line, as ferramentas e recursos que foram usados. A ordem é aperfeiçoamento contínuo.
Fonte de consulta: https://www.edutopia.org