Sobre adolescentes, idade madura e bullying

Alzira Willcox

 

Sou professora formada no início dos anos 60. Depois de alguns anos em que estivemos dispersas, uma dedicada colega nos conseguiu reunir – as normalistas da turma de 1962 do Instituto de Educação de Niterói, hoje IEPIC.
E há três anos nos encontramos com assiduidade e mantemos as notícias em dia no nosso grupo do WhatsApp a que denominamos “Normalistas sempre”.
No dia 14, quinta-feira passada, nós nos reunimos para o almoço de confraternização de fim de ano. Éramos 17 alegres senhoras (idosas?), relembrando os velhos tempos no Instituto de Educação. De repente voltamos à adolescência. E o assunto foi bullying.
Uma colega começou a citar alguns nomes de colegas e, quando não nos lembrávamos de alguma, ela trazia um apelido ou característica que levara o grupo a implicar ou na linguagem de hoje fazer bullying. Logo sabíamos de quem se tratava. E tudo era motivo – o cabelo, o peso, a idade, o lugar onde morava, a participação nas aulas… Não agredíamos, mas fazíamos marcação cerrada e mantínhamos certa distância, fechadas em nossos grupinhos. Aquele comportamento típico.
Sim. Comportamento adolescente. Há 55 anos os adolescentes já implicavam, faziam bullying, revelando aquela maldadezinha própria da idade.
O que induz à escolha de um colega para ser a vítima do bullying? Geralmente o escolhido apresenta alguma característica que chama a atenção, como já foi citado. Pode ser no aspecto físico em que tudo pode se tornar motivo para o bullying. Basta sair dos padrões que o grupo tomou para si. E se o colega for tímido ou introvertido se torna o alvo perfeito.
E destaco que o bullying não é nascido nos anos 2000. É muito mais velho! Talvez o surgimento das redes sociais, das comunicações instantâneas possa ter facilitado a ação dos grupos ou indivíduos empenhados em atazanar algum colega, chegando muitas vezes a torturar, extrapolando todos os limites, não se contentando em intimidar na escola, na sala de aula.
Pois é, hoje, maduras, tendo outra visão das pessoas e dos valores que importam, rimos condescendentes com a nossa peraltice adolescente. Mas o fato é que precisamos de muitos anos para nos aproximar de algumas “normalistas” que não faziam parte do nosso grupinho, que eram muitas vezes vítimas de bullying. E então descobrirmos, hoje, afinidades em intermináveis conversas, somos solidárias, damos suporte afetivo. Mas foram precisos muitos anos para que isso acontecesse.
É importante que os pais estejam atentos, não ignorem a situação, assumam uma atitude firme, mas evidenciando disposição para conversarem muito porque essa maldadezinha da criança, do adolescente e dos próprios adultos existe, sim. Os comentários, os chistes sobre pessoas e sua maneira de se vestir e se comportar, feitos pelos adultos, tudo isso fica registrado para a criança e, principalmente, para o adolescente. E devidamente processados, tais comentários se transformam em bullying na escola, nas redes sociais.
Um dia as implicâncias (bullying) podem fazer parte das conversas amenas de um grupo de amigas maduras, mas certamente doeram na época, arranharam a autoestima. Muitas vezes o sentir-se diminuído na adolescência pode servir de impulso para que a pessoa tenha sucesso, seja vencedora. Mas há casos em que o desfecho é outro. O mundo precisa de mais acolhimento, mais aceitação das diferenças. É isso.
Falar sobre bullying é incômodo, mas necessário. E é bom que hoje nosso grupo possa rir dos tempos da adolescência, lembrando-nos do passado, alegremente, a recitar o poema de Quintana, com efeito retroativo:
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão…
Eu passarinho!