Iandara David dos Santos
Aqui estou eu para mais um artigo voltado, como sempre, para aprendizagem. Continuo batendo na mesma tecla. Para onde irão esses meninos depois do 7º ano do Ensino Fundamental, visto que o 8º e 9º anos já são um salto para o Ensino Médio e, no entanto, o desinteresse pelo estudo é total? Já falam claramente que aqui não ficam – sem perspectiva de emprego, querem sair do país.
Considero alarmantes os flashes que ouço dos adolescentes: “Aqui não dá”. “Meu amigo foi e está estudando lá.” “Tenho um primo que mora lá e ele já disse para eu ir”.
São poucas as famílias que não estão em busca de sua árvore genealógica. Dupla cidadania e rumo a Portugal! Bem dizia um amigo meu, melhor encontrar com os brasileiros que querem continuar seus estudos e construir suas famílias lá, do que os malfadados “degredados” que enviavam de Portugal na época do descobrimento e aqui ficavam. Se pensarmos assim, não é tão ruim para os portugueses conviverem com tantos brasileiros que por lá se arriscam.
Até aí, escutava, e não me alarmava. Agora, liguei as antenas. Leio no Jornal O Globo, de mais ou menos vinte dias atrás, algo que me chamou à atenção. Mais de 80.000 brasileiros foram para Portugal. Muitos jovens para outros países. E o ensino em nossa terrinha, como fica? Cada vez mais complicado.
Ontem, domingo, reforço minha opinião com outra reportagem, dessa vez, de jovens saindo do país para fazerem sua graduação e pós- graduação no estrangeiro. E com a seguinte chamada.
Para fugir da crise, número de brasileiros em graduação no exterior aumenta 50%.
“A crise faz as famílias buscarem alternativas em qualidade de vida, segurança, e a situação do ensino superior no Brasil pesa na decisão.”
OGlobo Domingo, 17.9.2017
O Brasil vai ficar sem cérebros. Isso quer dizer que as escolas, que seriam as formadoras de novos instigadores de nossa cultura, tanto científica, tecnológica, política, social, está esvaziando. O que sobrará?
Com todas as reformas educacionais, leis e mais leis, os conteúdos programáticos não contemplam o desenvolvimento do aluno, o que ele pode assimilar e o que não corresponde à sua faixa etária. O conteúdo é lançado em sala, passa-se um exercício sobre a matéria e na semana seguinte um teste, e não se fala mais no assunto, até a avaliação global. Está difícil acompanhar esse esquema. Alunos comprometidos com sua aprendizagem, não conseguem acompanhar o ritmo que lhes é imposto. Poucas são as escolas que conseguem se desvencilhar da homogeneidade e se diferenciar, utilizando a equidade, o mesmo direito a todos, dando oportunidade aos alunos que necessitam comprovadamente mostrar o seu conhecimento de forma diferenciada.
Fala-se e já se faz a inclusão nas escolas. Salas de recursos e professores que se preparam para a função. Mas é árduo porque muitas vezes não há recursos adequados, há poucos professores para muitos alunos…
O Jornal O Globo, de sábado, 16.9.2017, pág. 26, traz uma matéria que impressiona. Trata-se de diferentes medidas de desempenho, em novas práticas e formas de avaliação para incluir na escola alunos com TDAH. Existem leis? Sim. Existem orientações específicas? Sim. Dicas para promover a aprendizagem na escola? Sim. Existem professores que se dedicam a esse trabalho? Sim. Mas é pouco, não satisfaz. As probabilidades de êxito não se equiparam com a corrida do programa que precisa ser dado em um ano.
Fui, há pouco tempo, um sábado inteiro, assistir a palestras com enfoque sobre autismo, dadas por profissionais de diferentes áreas, trazendo-nos pesquisas mais recentes, e diferentes formas de lidar na sala de aula . O auditório estava repleto de pais, profissionais como fonoaudiólogos, psicopedagogos, psicólogos, e principalmente professores, trazendo suas experiências e dificuldades – e que dificuldades! Não há regras, cada caso é um caso, como por exemplo, a criança portadora de autismo, segundo o CID 10 que classifica o autismo com nova denominação: Transtorno Invasivo de Desenvolvimento. Discute-se agora a denominação. E por aí vai. Cresce o número de crianças com necessidades especiais e as práticas educativas precisam ser reformuladas, efetivamente, para atender seu alunado.
A obrigatoriedade nas leis, e a contradição das mesmas na vivência das famílias e das escolas perante tais obrigações nos faz refletir o quanto ainda está distante nas instituições ter bases sólidas para renovação dos sistemas ali impostos.
Mas voltemos para o grande problema que sempre existiu, e continuamos tendo dentro do próprio país na Educação. Não bastasse a falta de verba, a má remuneração aos profissionais de educação, a evasão escolar, o fechamento e greve nas escolas, as universidades estaduais e federais em dificuldades e o ENEM mais concorrido, cresce agora, também, o número de brasileiros não só em busca de cursos de idiomas, mas almejando e se esforçando para obtenção de um diploma de graduação internacional.
Segundo a Brazilian Educational & Travel Association (Belta) que reúne as agências no exterior, em relação a 2015, 25,5% dos 246,4 mil estudantes deixaram o país para fazer cursos no exterior. E não é nada fácil. O fato de cursar uma universidade fora não garante a permanência no país em que estudou. O visto de trabalho é difícil. Países como Reino Unido e Estados Unidos vêm tornando suas políticas de imigração mais rígidas. Salvo Portugal, tenho ouvido falar na Austrália, Canadá, Alemanha. E é preciso muito planejamento.
O que não pode ocorrer é o que nos está assustando e é o que nos alertam os especialistas: uma possível perda de cérebros no Brasil. Sem volta?
Iandara David dos Santos é
Pedagoga, psicopedagoga e terapeuta familiar sistêmica.
Em 20/09/2017