Programas bilíngues: um assunto que não sai de moda nem nas mídias digitais. O bilíngue está na boca do povo, já diriam alguns.
E você sabe o que é bilinguismo, especialmente no contexto das escolas brasileiras?
Ser bilíngue é conseguir se comunicar sem esforço em duas línguas. Muitos têm como referência para ser bilíngue o fato de falar sem erros gramaticais ou com boa e clara pronúncia.
Sobretudo, o bilinguismo pode ser considerado como a competência mínima em uma língua diferente da nativa, em uma ou mais das quatro habilidades linguísticas: ler, escrever, falar e ouvir.
A verdade é que não existem critérios suficientes para definir-se com mais precisão o que é ser bilíngue.
Penso que o bilinguismo é um caminho, um percurso que nos leva ao domínio de uma língua além da nossa materna. Esse domínio deve permitir uma comunicação efetiva e o uso da língua em diferentes situações pessoais, profissionais ou sociais na forma oral e/ou escrita.
Mas como alcançar o bilinguismo?
O bilinguismo pode ser alcançado de várias maneiras. A maioria de nós não vive cercado de falantes nativos. Portanto, a maioria de nós está constantemente aprendendo uma segunda língua. É importante entender que os resultados vêm do tamanho do esforço colocado nesse aprendizado.
Todos podem e vão chegar do outro lado – o bilinguismo. Mas cada um tem uma velocidade e, por isso, chegarão lá em tempos diferentes.
E quais as vantagens de ser bilíngue ?
- Pessoas bilíngues são capazes de pensar de forma mais flexível e criativa.
- Há maiores oportunidades futuras na vida profissional e pessoal.
- Pessoas bilíngues podem ser elos de ligação entre gerações e povos que não falem a mesma língua e não sejam bilíngues.
- Ter a capacidade de se comunicar com uma ampla gama de pessoas.
- Ter uma compreensão mais profunda de outras culturas e idiomas.
- Ter uma auto-estima elevada e maior segurança na identidade pessoal.
- Aprender um terceiro idioma se torna ainda mais fácil.
Como tornar crianças bilíngues dentro de uma escola regular?
Todo mundo que aposta numa educação que mire o século 21 e suas diversas demandas, sabe da importância de oferecermos o maior número possível de exposição e interação com a língua inglesa desde criança.
Inglês é língua franca e nem é considerado mais uma habilidade extra. É parte da formação regular do aluno. Sendo assim, as escolas devem considerar um bom ensino de Inglês durante os anos que seus alunos lá estão como algo default. Um bom ensino Inglês não deve ser visto como algo extraordinário para os alunos e, sim, algo normal.
Se estamos falando de ensino de Inglês, por que não falar em programa de Inglês em vez de programa bilíngue?
Na verdade, tais programas têm como objetivo ensinar Inglês para os alunos em diferentes cargas horárias. Tais programas não só ensinam Inglês desenvolvendo as 5 habilidades linguísticas – ler, escrever, compreender, ouvir, e falar – como também aprenderam conteúdos em Inglês – reforçando conhecimentos diversos da olhando os horizontes dos alunos através das ciências, da arte e da cultura.
O nome programa bilíngue é uma forma de reforçar que as horas em Inglês desse programa formarão crianças bilingues e levarão à escola a possibilidade de tornar seus alunos conhecedores de uma segunda língua.
E o ensino bilíngue funciona dentro das escolas tradicionalmente não-bilíngues ?
Para que um programa bilíngue (ou programa de Inglês) funcione satisfatoriamente numa escola, é preciso alguns fatores:
1- Os pais devem enxergar valor nas horas de aulas dadas em Inglês aos seus filhos. Para isso, a escola deve valorizar seus programas conduzindo-os com seriedade e autoridade no assunto.
2- Deve-se trabalhar com mapas curriculares, materiais didáticos apropriados e planejamento das aulas com objetivos a serem atingidos pelos alunos.
3- Os professores devem ser continuamente capacitados e acompanhados e os alunos avaliados regularmente.
4- Os alunos, bem como os pais de alunos devem participar ao máximo do dia a dia do programa, para que se orgulhem, vejam valor e recomendem a escola pelo seu programa bilíngue.
5- Deve haver uma curadoria de atividades especiais e eventos envolvendo escola, alunos e famílias. Assim os alunos e suas famílias sentem-se felizes e enxergando valor no programa.
6- Promover ações que revelem as mais diversas habilidades dos alunos em Inglês é uma forma de apresentar resultados às famílias.
Qual é a carga horária mínima recomendável para que o programa bilíngue da escola seja consistente e eficaz?
Num mundo ideal mas exequível, aulas diárias de aproximadamente 1 hora de duração já trazem um bom diferencial no ensino de Inglês, se bem planejadas e com bom aproveitamento de tempo. Pode-se estender esse tempo se algumas matérias curriculares como Ciências, Matemática, Artes, Educação física e Música sejam, em parte, dadas em Inglês. Quanto mais, desde que bem planejadas e leves, melhor.
E quando a escola não tem como absorver o custo de um programa bilíngue mais extenso?
Nem todas as escolas têm conseguido oferecer em sua grade curricular o tempo ideal em Inglês, seja por razões de carga horária ou por questões financeiras mesmo.
Nesse caso, se a principal questão é não impactar o bolso dos pais com programas bilingues mais robustos, a escola pode e deve oferecer horas extras de Inglês de forma opcional – horário estendido ou contraturno. Essa ainda é uma maneira legítima e inteligente de atender a todos sem perder clientela ou porque a escola ficou “mais cara por causa do Inglês” ou porque “não tem a quantidade de Inglês que queremos”, argumentam os pais.
A escola não tem custo de implantação e ainda gera receita com programas terceirizados cuja coordenação, atendimento aos pais e curadoria são entregues sem “dores de cabeça” maiores.
A verdade é que, de um jeito ou de outro, os programas bilíngues vieram somar ao ensino regular das escolas num caminho sem volta.
Nas décadas de 1990 e 2000 as crianças ainda eram matriculadas nos cursos de idioma, mas de uns anos para cá essa prática mudou por diversos motivos: cursos de inglês para mais de um filho podem ser um custo fixo alto no orçamento familiar, muitas vezes não há estruturas de pessoal para levar e buscar os filhos no cursinho e, sobretudo, a criança na escola estuda Inglês com praticidade para elas e para seus pais.
Como reflexo dessa tendência, as escolas bilíngues cresceram significativamente no Brasil, chamando atenção dos responsáveis que estavam dispostos a pagar mais, para, em contrapartida, aprender Inglês de forma definitiva.
As escolas bilíngues stricto sensu são aquelas onde o aprendizado é dividido entre Inglês e Português, numa carga horária naturalmente mais extensa – regime integral.
A partir disso, muitas escolas não oficialmente bilíngues começaram a oferecer programas bilíngues com mais horários para qualificar o ensino de Inglês em sua escola e agregar valor à sua marca, atraindo o público que procura, especialmente, as escolas bilíngues.
Com esse movimento, surgiu uma nova demanda: quem vai implementar esses programas bilíngues nas escolas?
1- Solução in-house – Algumas escolas buscam a solução internamente com um bom coordenador de Inglês, professores qualificados, materiais de excelência e treinamento contínuo de equipe. Quando a estrutura e o orçamento da escola permitem criar esse cenário para os programas bilíngues, essa opção é excelente. Mas a verdade é que nem sempre é fácil e acessível encontrar todos esses profissionais e investir nessa capacitação docente. É importante ter tempo e dedicação aos programa bilíngues para que eles tragam resultados palpáveis.
2- Terceirização completa dos programas bilíngues – Há escolas que preferem entregar o planejamento e execução de seus programas bilíngues a uma empresa que assuma toda a gestão do programa, incluindo a contratação de professores.
3- Adoção de um sistema bilíngue externo – Nesse caso, a escola mantém seus professores (que podem ser avaliados e selecionados pela empresa) que serão atendidos com cuidado e empatia pela empresa que, além disso, fornece os materiais do aluno e do professor, os planejamentos, mapas curriculares e roteiros de aula, além de assistência a pais e alunos.
Em quaisquer cenários, é fundamental levar-se em conta os métodos utilizados dentro de sala de aula. É importante que as aulas estejam sendo dadas com bom uso do Inglês, que o material utilizado seja adequado à faixa etária, se é feito uso de recursos como brincadeiras, músicas, histórias infantis, bem como recursos digitais e, principalmente, se o idioma é ensinado dentro de forma moderna e contextualizada, sobretudo, com técnicas próprias para o ensino do Inglês como língua estrangeira e não língua nativa. e não apenas palavras soltas. A ludicidade e a contextualização, inclusive através da inserção de conteúdo transversais (como Ciências, por exemplo) em Inglês são os melhores caminhos.
Escolas com ensino de Inglês sério e consistente são o melhor futuro para nossas crianças. Independente de rótulos, as horas de aula dadas em Inglês devem ser de qualidade e trazerem resultados positivos no aprendizado do aluno. Os programas bilíngues devem atender as expectativas das escolas e dos pais dos alunos que esperam ampliar os horizontes de seus filhos com a aquisição de uma segunda língua tão importante no mundo.
Por Bia Willcox
‘”The limits of my language are the limits of my world.“
Ludwig Wittgenstein
“Os limites da minha língua são os limites do meu mundo.”