Alzira Willcox de Souza
A palavra preconceito é etimologicamente constituída (entende-se por etimologia o estudo do significado de uma palavra a partir dos componentes que a constituem) por duas partes diferentes: pré, que dá ideia de algo anterior, antecedente, que existe de forma primária, primeira, precedente; e conceito, aquilo que se entende ou compreende em respeito de algo, derivado do latim conseptus, que se refere à construção ideal do ser ou de objetos apreensíveis cognitivamente. A ideia do preconceito refere-se a um conceito formado em tempo anterior ou antecedente à constatação de fatos.
O que é, então, preconceito? Preconceito é a opinião ou mesmo sentimento favorável ou desfavorável, pré-concebido, ou seja, concebido sem exame crítico, generalização apressada e sem fundamento, com base em ideias advindas de experiência pessoal restrita ou mesmo impostas pelo meio. Nessa perspectiva, podemos considerar que o preconceito está inserido em todos os círculos de interação humana, sendo um artifício usado no convívio e nos momentos em que nos defrontamos com o não familiar, o desconhecido ou o diferente. O preconceito leva à intolerância e à discriminação.
A discriminação quebra o princípio de igualdade e induz à exclusão, impõe restrições, estimula preferências e advém do preconceito, geralmente arraigado, e que é passado culturalmente, induzindo crianças, entre outras coisas, à prática do bullying na escola, nas redes sociais, na própria família.
Pessoas são discriminadas por raça, gênero, idade, aparência física, orientação sexual, religião, convicções políticas e ideológicas, origem e nacionalidade.
O preconceito faz parte da história da humanidade e, longe de ser banido, ganha novos contornos de agressão e intolerância.
O Brasil tem ou tinha o conceito de ter uma população amigável e pouco preconceituosa. Mas com o advento da internet, das redes sociais, pouca coisa fica oculta e hoje sabemos que uma parcela significativa da sociedade é refratária ao diferente, tratando com desrespeito e, muitas vezes, violência aqueles que são objeto do seu preconceito. Discriminam e atacam os alvos do seu preconceito cego. Sem dúvida, as redes sociais trouxeram em seu bojo a intolerância. Intolerância latente nas pessoas em todos os níveis e que agora se expande e se espalha pelo conforto de se estar num ambiente virtual que supostamente confere mais liberdade. Em nosso contexto social, o preconceito racial é o mais comum e o mais problemático em suas consequências. Uma delas é a segregação racial ou o racismo, que também está intimamente ligada a problemas sociais como a desigualdade, a violência e a pobreza.
O combate a esse tipo de preconceito deve ser travado por meio da educação que deve servir como parâmetro de compreensão do mundo e das diferenças, tendo sempre como objetivo a afirmação da igualdade de direitos e deveres que todos temos uns com os outros, independente de sexo, gênero, cor, orientação sexual, crença ou situação econômica. E as crianças absorvem o comportamento que observam à sua volta, repetindo sob a forma de bullying as manifestações odiosas nascidas do preconceito. Por isso, a educação – educação ampla que não abarca só a escola – tem papel primordial quando se trata de preconceito.
Preconceito e discriminação não acontecem apenas no Brasil. Trata-se de questão mundial e preocupante. Quanto mais conscientes estivermos, mais capazes seremos de orientar nossas crianças para a empatia e o tratamento igual a todos do seu universo de relações. O primeiro grande passo do adulto é respeitar as pessoas, as opiniões divergentes porque o exemplo tem grande significado na orientação e educação das crianças.
E lembremos que o mundo precisa de mais empatia. Falta às pessoas colocarem-se no lugar do outro, seguirem essa regra de ouro da convivência, tão simples e tão necessária.
Alzira Willcox