Alzira Willcox
A conversa hoje está mais voltada para professores, hão de dizer. Mas planejar está muito longe de ser tarefa só de professores. Digamos que planejar sela o compromisso com a competência em qualquer área. Exagero? Não, absolutamente. Se você faz o planejamento sair do papel, se o coloca em prática, se tiver refletido intensamente sobre o que deseja, sobre o que já foi planejado anteriormente e, sobretudo, sobre resultados, estará, sim, trabalhando com e para competência.
E a que se deve a ineficácia de certos planos? Podemos citar alguns fatores e um deles é, com certeza, ter sido visto apenas como reunião de ideias, ter estagnado na fase de elaboração sem compromisso com a execução e avaliação.
Vamos, então, falar de eficiência e eficácia.
Eficiência é a execuçaõ perfeita de uma tarefa que se realiza.
Eficácia é atingida quando se escolhem entre muitas ações possíveis, aquelas que, se executadas, levam à consecução de um fim previamente estabelecido, de acordo com o objetivo a ser alcançado. Como exemplo a educação. Digamos que o professor tenha o planejamento de uma aula, elaborado com esmero. Mas a turma não interagiu, não correspondeu. É a hora de agir com eficácia para ser eficiente.
Eficácia e eficiência têm significados muito próximos. Vamos assumir, então que o compromisso com a competência passa tanto pela eficácia, quanto pela eficiência. E nesses conceitos está inserida a avaliação, o tempo todo porque só avaliando podemos perceber se fomos eficientes, se as nossas ações foram eficazes e que mudanças são necessárias.
Resumindo, o caminho para a competência, abarcando eficiência e eficácia, tem três passos importantes: elaborar – executar – avaliar.
Para a fase de elaboração, é fundamental ter clareza dos objetivos. Seja para um curso, uma palestra, um workshop, uma aula, um trabalho qualquer: o que se vai fazer, para que fazer, quando, em quanto tempo. Eis, então, que se sabe claramente o que se vai realizar e que estratégias escolher. Sempre de olho na prática e, aí, um alerta aos professores. Mestre Paulo Freire afirmou: “a prática de pensar a prática é a melhor maneira de se pensar certo.”
E o planejamento pode ter sido bem feito, os objetivos bem elaborados e fixados, pensadas estratégias interessantes, mas se a prática não estiver impregnada de todos os fatores que compõem eficácia e eficiência, se faltar engajamento e entusiasmo, o fracasso é inevitável. Eis, então, que entra a avaliação. Antes de tudo, a autoavaliação. É através da avaliação que se corrigem rumos, acerta-se todo o mecanismo pensado no planejamento e se têm os parâmetros para os passos seguintes. Por que esperar que a avaliação venha de fora, de clientes insatisfeitos, alunos desmotivados, pais de alunos decepcionados e aborrecidos?
Quem faz o planejamento tem uma enorme responsabilidade, mas quem o executa tem ainda maior responsabilidade porque vai levar o feedback. E se quem executa foi quem planejou, tem que ter ainda mais aguçada a observação para bem avaliar a sua prática cotejada com o planejamento.
O bom planejamento deve levar à clareza em relação ao agir. E o que se espera é que a prática reflita essa clareza. Caso contrário, pra que planejar?
Planejar é importante em qualquer ramo da atividade humana, Planejar é se antecipar aos fatos, é olhar longe, prever, chegar na frente, ganhar tempo.
Não basta seguir robotizadamente um planejamento. Planejamento exige uma prática dinâmica, antenada, viva, proativa. A prática dá vida ao planejamento. Faz acontecer e aponta novos rumos, se necessário, propõe novas ideias. E, aqui, me dirijo mais aos professores. Planejar é papel. A prática é vida, exige comprometimento do professor, exige acreditar no que faz, exige curiosidade para aprender mais com a própria prática e com os alunos, exige criticidade, exige criatividade e presença de espírito ante o inesperado, o não previsto ou planejado. A prática exige apreensão da realidade que se tem à frente, realidade da turma de alunos em que o planejamento vai ser aplicado. Tudo isso reforça a necessidade de autoavaliação e renovação constante – deu certo ontem com uma turma, dará certo hoje com a mesma ou outra turma? Essa pergunta tem que estar presente ao professor sempre para manter o estado de alerta, deixá-lo atento à dinâmica da turma e pautado pelo planejamento que é a rota, o rumo, mas que exige correções muitas vezes.
Planeja-se para poder mudar, se necessário, para se ter um ponto de partida que conduza a um ideal possível. Planeja-se para melhorar cada vez mais a prática e nos permitir calcular a que distância se está do que se quer alcançar. Planeja-se, enfim, para se ter uma programação e desenvolver estratégias integradoras dentro dela.
Planejamento exige volta, retorno, feedback para que se tenha possibilidade de avaliá-lo. Avaliação que é feita por quem o executa, principalmente. Não são os teóricos os principais atores. São os responsáveis pela prática os verdadeiros agentes das mudanças.
Dizia Paulo Freire: a reflexão crítica sobre a prática é um saber indispensável ao professor. Eu acrescento – é um saber indispensável a qualquer profissional.
Concluindo, planejamos para melhorarmos a nossa prática.
Fecho com um pensamento de Fernando Sabino que pode ser aplicado à reflexão que propusemos sobre o fazer profissional. Mas serve também para a vida em geral porque a própria vida requer planejamento, apesar do inesperado.
“Fazer da interrupção um caminho novo, fazer da queda, um passo de dança, do medo, uma escada, do sonho uma ponte, da procura, um encontro.” F.S.