Por que os jovens hoje têm tanta dificuldade em se adaptar ao mundo do trabalho?

Alzira Willcox de Souza

Não vai muito longe o tempo em que a única preocupação com a formação do indivíduo se ligava exclusivamente à área acadêmica – o importante era o raciocínio lógico e verbal, habilidades com cálculos. As coisas começaram a ganhar outros contornos com os estudos de Howard Gardner, psicólogo americano que mudou a maneira de pensar e agir sobre a inteligência, com a publicação do seu livro “Mentes que criam” em que ele aponta que os indivíduos possuem diferentes maneiras de aprender, lembrar, entender e ter um bom desempenho. De acordo com a sua teoria, pode-se conhecer o mundo através da linguística, da análise lógico-matemática, da representação visual e espacial, das relações interpessoais, da relação intrapessoal, da música, da linguagem corporal, da natureza. O que difere entre as pessoas é a predominância dessas inteligências – o chamado perfil das inteligências – e o modo como cada uma é requisitada e combinada para realizar diferentes tarefas, resolver problemas e desenvolver-se de várias maneiras.
Então, surgiu Daniel Goleman com a sua teoria de Inteligência Emocional. Além do reconhecimento de que há múltiplas inteligências, ele traz uma nova visão sobre as qualidades importantes para o ajustamento do indivíduo ao mundo adulto, mundo do trabalho: aponta para a relevância do relacionamento humano e equilíbrio emocional. O equilíbrio emocional e a capacidade de autocontrole são a chave para o sucesso pessoal e trouxe um novo foco aos objetivos educacionais. Tão importante quanto o saber acadêmico são as qualidades de relacionamento humano – afabilidade, empatia, compreensão, gentileza, autocontrole. Desenvolver tais qualidades aumenta a chance de se obter sucesso.
A ideia de inteligência emocional nos remete ao conceito de maturidade emocional. Maturidade emocional se caracteriza por um estado interno em que nos tornamos mais aptos a lidar com as inevitáveis dificuldades da vida e com os desafios que se nos apresentam, adquirindo a possibilidade de viver mais plenamente seus aspectos agradáveis e, até mesmo, lúdicos. Talvez possamos reconhecer uma pessoa madura por algumas características indicativas:
• tolerância às frustrações inevitáveis da vida;
• resiliência que é a habilidade de se adaptar com facilidade às mudanças, às alterações ou aos infortúnios da vida, recobrando o equilíbrio quando passam;
• autocontrole que se caracteriza por deter os impulsos de raiva, de indignação para lidar com situações adversas;
• saber lidar com a tristeza não perdendo a dignidade, conseguindo elaborar a situação que a provocou;
• da mesma forma, manifestar alegria com comedimento, sem atitudes exageradas;
• trabalhar sempre em prol da construção de um clima positivo e agradável nos ambientes que frequenta;
• agir de modo equânime, atribuindo, a si e aos outros, direitos e deveres iguais;
• superar qualquer tendência a culpar o outro pelos próprios insucessos;
• buscar estabilidade no humor, que não significa a obrigação de estar sempre alegre e feliz, mas ter equilíbrio em quaisquer momentos por que esteja passando.
Mas adquirir maturidade não se resume a seguir uma lista e nem se nasce com ela. Aqui, tentamos elencar algumas atitudes para que cada um se reconheça. E para que os pais possam fazer uma autoanálise e tentar responder à questão: tenho um comportamento maduro e trabalho para que meu filho ganhe maturidade?
Há outras características de maturidade. Algo muito importante, por exemplo, é senso de responsabilidade sobre si mesmo, assim como o desenvolvimento de uma sólida disciplina: isso significa controle racional sobre as emoções. No campo as emoções entra a atuação dos pais. Conferir noção de responsabilidade, coibir os excessos, lembrar que proteção demais impede o amadurecimento do indivíduo, desprotege. Ajudar o filho desde cedo a controlar as emoções, a administrar a inveja, o ciúme e a raiva. Não alimentar a preguiça, fazendo por ele todas as tarefas que ele já seria capaz de fazer.
E, dizem os psicólogos, controlar não significa reprimir ou recalcar as emoções. Apenas significa colocar a razão acima da reação emocional, fazer com que as emoções passem pelo crivo da razão, sejam por ela avalizadas. A isso chamamos inteligência emocional. Pessoas que desenvolveram bem a inteligência emocional se tornam maduras, confiáveis, exercendo adequado domínio sobre si mesmas. Ganham maturidade emocional, tão importante quanto a formação acadêmica ou técnica para ingresso no mundo do trabalho.
Em geral, os indivíduos com inteligência emocional mais desenvolvida, indivíduos mais evoluídos emocionalmente, tendem a ser mais ousados e a buscar com determinação a realização de seus projetos. Têm menos medo dos eventuais e inevitáveis fracassos, pois se consideram suficientemente capazes de superar a dor derivada dos revezes. Aprendem com seus tombos, reconhecem onde erraram e seguem em frente buscando agir com otimismo e coragem ainda maior. Os pais não precisam ter medo de dar limites, de serem exigentes sem esquecer o afeto porque o resultado será compensador.
Estamos falando o tempo todo de maturidade, de desenvolver a inteligência emocional e estamos plenamente conscientes que nenhum indivíduo é um produto pronto e acabado. O importante é reconhecer-se e estar sempre procurando progredir e trabalhar para assumir uma postura positiva em relação ao futuro e o que deseja para si. Sempre é tempo.
A maturidade é importante para que saibamos manejar as incertezas da vida, as questões essenciais que configuram a existência e o próprio sentido da vida.
E, como pais e educadores, precisamos ter consciência da importância de trabalhar para que os filhos cresçam desenvolvendo não só os saberes da área cognitiva, mas, também, a inteligência emocional que lhes conferirá maturidade para que sejam adultos bem resolvidos e adaptados ao mundo do trabalho, ao mundo fora da proteção paterna.

Alzira Willcox de Souza