Alzira Willcox
O artigo de Perrenoud é um mergulho nos programas escolares voltados para as competências e termina afirmando que a pedagogia diferenciada e a avaliação formativa continuarão sempre na ordem do dia.
É fato que o mundo vive uma era de crescimento espetacular. As informações chegam numa velocidade antes inimaginável. São muitas informações disponíveis num só dia e isso determina uma rápida e constante mudança. O mercado de trabalho cada vez mais busca padrões e competências alinhados aos avanços da tecnologia. Os ambientes de trabalho procuram profissionais autônomos, criativos, antenados e capazes de solucionar problemas. Embora o papel da escola em essência não seja apenas o de preparar mão de obra para o mercado de trabalho, é indiscutível que os programas voltados para competências, sem alijarem os saberes clássicos, estarão formando cidadãos mais capacitados para enfrentar os desafios do seu tempo.
O que seria, então, uma pedagogia diferenciada? Seria aquela que propõe o trabalho em grupo, a inclusão da diversidade, a capacidade de liderar, a competência para buscar o conhecimento e transformá-lo, aplicando-o a novas situações. Todas as competências listadas por Perrenoud, enfim. Um modelo que valorize as habilidades socioemocionais, importantes no caminhar acadêmico do sujeito, mas também visando ao objetivo final da sua formação pessoal e profissional.
Falamos de novo em uma pedagogia que trabalhe as habilidades cognitivas – memória, compreensão, aplicação, análise, síntese, pensamento crítico, argumentação – e também as interpessoais – liderança, cooperação, resolução de conflitos, empatia – e as intrapessoais – ética, resiliência, curiosidade, autoconhecimento. Tudo isso diz respeito ao projeto pedagógico que se pretende abraçar, alicerçado em ideias bastante claras e diferenciadas, não uma proposta estática, engessada em preceitos de outro século, outra realidade, em que o professor é o único detentor do saber e em que diferentes alunos são submetidos a uma única forma de avaliação que ignora completamente as peculiaridades individuais.
Vamos falar um pouco de avaliação, avaliação escolar. Se falarmos sobre pedagogia diferenciada, logo pensaremos no lugar da avaliação nessa concepção. E nesse contexto, a avaliação educacional deverá manifestar-se como mecanismo de diagnóstico da situação, tendo em vista o avanço e o crescimento e não a estagnação e os rótulos.
A avaliação é uma forma de ajuizamento da qualidade do que está sendo analisado para referendá-lo ou transformá-lo. Então a avaliação é um processo amplo e que abarca mais do que o indivíduo, mas toda a realidade do projeto pedagógico e é um julgamento de valor sobre manifestações relevantes com o objetivo de uma tomada de decisão (Luckesi, 1978).
Em primeiro lugar a avaliação é um juízo de valor e precisa apoiar-se em vários suportes ou ferramentas que possam aproximar esse juízo de valor dos objetivos propostos, do ideal estabelecido. É, pois, um processo amplo e que exige fundamentação teórica e uma prática consistente e condizente com os objetivos propostos. Daí a chamarmos avaliação formativa, um contraponto à avaliação classificatória dominante.
Em segundo lugar, o juízo emergirá de indicadores que delimitam a qualidade esperada. Logo, a seleção de tais indicadores tem que ser criteriosa e específica, de acordo, mais uma vez, com os objetivos fixados. Em terceiro lugar, a avaliação deve conduzir necessariamente a uma tomada de decisão em relação a todo o processo.
O que vemos hoje é a avaliação vista por seus instrumentos apenas. Provas e testes que medem, nem sempre com instrumentos bem formulados e precisos, o desempenho do aluno, reduzindo drasticamente o objetivo da avaliação a uma função classificatória apenas. Levando o aluno a estagnar, na maioria das vezes. E a função classificatória em nada auxilia o avanço e crescimento do aluno que fica reduzido a um símbolo, uma nota que expressa o valor atribuído pelo professor ao aprendido. E ali permanecerá.
O ato de avaliar deve ser visto como uma pausa para julgar a prática e torná-la dinâmica como dinâmico é o processo de aprendizagem. Trata-se de retomar a marcha de forma mais adequada. Como diagnóstica, a avaliação propiciará uma análise do estágio em que se está e de sua distância em relação ao objetivo que se pretende atingir, fixado como meta.
Para terminar, proponho que a avaliação educacional no contexto de uma pedagogia diferenciada seja efetivamente um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade. E os dados relevantes não poderão ser tomados ao acaso, ao bel-prazer do professor. Os instrumentos devem ser de fato bem estabelecidos e a avaliação voltada para o objetivo maior que é a transformação em sua essência pura (dos sujeitos, dos processos).
Para reflexão: a avaliação deverá nortear o processo de aprendizagem, a partir da verificação não dos mínimos possíveis, mas, sim, dos mínimos necessários