O que é aprendizagem?

Alzira Willcox
Os avanços e descobertas ligados ao processo de aprendizagem na área da Neurociência são, sem duvida, uma revolução para o meio educacional. A Neurociência nos abre a oportunidade de conhecer como o cérebro aprende. É entender o funcionamento das redes neurais que se estabelecem no momento da aprendizagem. Tomar conhecimento da maneira como os estímulos chegam ao cérebro e da forma como as memórias se consolidam. E mais, de como são processadas as informações armazenadas às quais o indivíduo tem acesso.
Falar em educação nos remete, do ponto de vista neurológico, às redes de neurônios que se estabelecem, através de novas sinapses (o que liga os neurônios e por onde passam os estímulos). Aprendizagem é um complexo processo neural pelo qual o cérebro passa frente aos estímulos do ambiente. E como se dá esse processo? O processo de que falamos é a reação do cérebro aos estímulos, ativando as sinapses e tornando-as mais intensas. A cada novo estímulo, a cada conhecimento e/ou comportamento que queremos que seja consolidado, comparecem circuitos que processam as informações que, então, são consolidadas.
Paremos para pensar no que se desvenda a todos, educadores principalmente. O cérebro, antes muito pouco conhecido, fantástico e misterioso órgão, é a matriz do processo da aprendizagem. Cada região, cada lobo, cada reentrância, cada sulco tem a sua função e enorme importância. É um trabalho em conjunto, onde cada região interage e precisa da outra. Mas onde o aprender tem a sua sede que necessita ser estimulada adequadamente? Aí, entram regiões da área cognitiva e da área emocional. Não é simples. É um mecanismo complexo que envolve em diferentes sedes (termo para facilitar o entendimento): as nossas memórias, a cognição com as rotas da linguagem, da leitura e escrita, os mecanismos da atenção, as manifestações do comportamento infantil, a motivação, as funções executivas e muitas outras. Cada estrutura com seus neurônios específicos e especializados desempenha um papel importantíssimo no ato de aprender.
Assim, podemos compreender como o uso de estratégias adequadas, utilizadas com conhecimento em um processo que seja dinâmico e prazeroso, provocará alterações na quantidade e qualidade das conexões sinápticas que afetarão o funcionamento do cérebro de forma positiva e permanente, com resultados satisfatórios.
E da mesma forma fica mais fácil compreender também porque cérebros em sofrimento não podem aprender satisfatoriamente. Falamos aqui de ansiedade e depressão, de TDAH. Enterrada bem no fundo do sistema límbico cerebral existe uma verdadeira estação instável chamada amígdala e é lá que as mensagens de sobrevivência e as emocionais são inconscientemente priorizadas e aprendidas. Nós continuamente escaneamos o ambiente procurando sensações e sentimentos de conexão e segurança. Estudantes que aparentam ser desafiadores, sempre em oposição, distantes e desligados ou agitados, podem estar apresentando comportamento negativo porque estão sofrendo e respondendo ao seu estresse ou a um desarranjo qualquer. E os lóbulos do pensamento da córtex pré-frontal cerebral se fecham quando o cérebro está em sofrimento. Se os lóbulos se fecham, não fazem as necessárias sinapses, logo não há como aprender. Surgem os bloqueios. A resposta crônica ao medo pode afetar outras partes do cérebro responsáveis pela cognição e aprendizagem. Crianças e adolescentes precisam de estimulação e nutrição para o desenvolvimento e inclusão sadia no maravilhoso mundo da aprendizagem.
Com o advento dos conhecimentos trazidos pela neurociência, mais claramente entendemos que a aprendizagem é um processo complexo que envolve a área cognitiva e também emocional. Ensinar requer conhecimento prévio dos mecanismos da aprendizagem. Professores e especialistas em educação precisam levar em conta todo esse complexo processo na hora de fixar objetivos, escolher estratégias e, sobretudo, avaliar.