Emily Costa
Meu bebê nasceu. Meu encanto. Dias de mãe de primeiro filho, totalmente envolvida com os afazeres que a maternidade impõe. E, passados os primeiros meses, tudo começou. João não olhava pra gente, seus olhos não encontravam os meus e isso me deixava triste. Eu brincava com ele, mas ele parecia estar em outra dimensão.
Quando ele estava com um aninho, a gente percebeu que ele gostava muito das mãos, balançando-as constantemente. Mas acreditamos ser normal colocar as mãos pra cima e balançar – ele gostava, simples. Como ele não falasse nada, com um ano e seis meses resolvemos levá-lo a uma fonoaudióloga que começou o atendimento. Durante seis meses ela o atendeu. Ao final desse tempo, a fonoaudióloga nos chamou e nos aconselhou a procurarmos um neurologista. Um impacto.
Levamos nosso filho, com dois anos e meio, a uma neurologista que o diagnosticou como portador de autismo. A médica passou medicamento, mas eu não quis medicar meu filho. Segui as orientações de terapias. Isto sim. Levei muito a sério as terapias indicadas e observei que estavam surtindo efeito.
Estava confiante. Pronto, encontrei a chave para conhecer melhor uma situação que nos incomodava – nosso anjo João não falava e ficava muito inquieto. E o tempo foi passando e fomos percebendo melhora significativa.
Não foi fácil enfrentar a situação. Chorei muitas vezes, sentindo-me impotente diante das reações do meu João. No supermercado, em shoppings, eu percebia os olhares das pessoas à minha volta. Elas não entendiam e achavam que quando ele esperneava era porque eu o estaria maltratando. E chegavam até a me chamar à atenção e me acusar de não saber lidar com meu filho. As pessoas em geral ignoram o fato de que crianças autistas têm esse comportamento e se apressam em julgar o adulto, a mãe por não saber dar limites. E sofri inclusive dentro da própria família. Muitas vezes percebi que familiares escondiam brinquedos dos filhos, para que João não os destruísse ou quebrasse. Empatia é artigo raro e as pessoas à minha volta não enxergavam que João era uma criancinha especial, querendo se encontrar nesse mundo hostil ao diferente. Sofri muito em minha própria família ao perceber que meu filho estava sendo excluído.
Decidi procurar um psicólogo porque eu precisava me fortalecer para integrar meu filho no mundo, por mínimo que fosse. E isso realmente me ajudou muito. E me deu coragem para seguir em frente, investindo no João.
João fez terapia ocupacional, musicoterapia, continuou a fonoaudiologia e fez também ecoterapia. A ecoterapia se faz com cavalos e foi de um resultado extraordinário, principalmente ajudando a dar limites para o seu comportamento. Acredito que a ecoterapia tenha sido fundamental para que João fosse se ajustando ao meio. Se me pedissem conselho, indicaria essa terapia a todas as crianças autistas porque pude constatar a melhora evidente na situação de João.
Colocamos João na natação e ele foi se desenvolvendo muito rapidamente, aprendendo até nado de costas que é o mais difícil. Ele fazia. Nunca desisti de investir no meu filho. Sempre procurando recursos para que ele tivesse um desenvolvimento, tanto quanto possível, normal, como o de qualquer criança.
Tenho certeza que a nossa força e coragem nos impulsionou a prosseguir e superar os obstáculos. João está hoje com nove anos, frequenta a escola, é querido pelos coleguinhas, é carinhoso e alegre. É inteligente, ótimo aluno em Matemática, matéria em que nunca tira menos que oito. A escola o ajudou muito, incluindo-o sempre. E quero registrar a minha parceria com a escola onde estou sempre presente em todos os momentos, até hoje.
E acabou a exclusão do meu filho. Quem escondia os brinquedos, deixa o filho brincar com João. Todo aquele desajuste acabou e a transição para o equilíbrio se revela em atitudes. João não tem mais ecolalias (repetição de frases), ainda se percebe um pouco de estereotipia: o balançar das mãos acontece quando ele está feliz demais, ansioso, ou quando joga Xbox.
Considero o desenvolvimento de João uma vitória porque em pouco tempo ele ultrapassou várias etapas. Considerando que ele veio a falar mesmo com cinco anos, falar, formando frases completas, a evolução foi grande e sentida a cada ano. Hoje, em seus nove anos, se expressa bem, realiza bem as atividades de casa, desenvolveu autonomia e faz tudo sozinho sem precisar de ajuda. Nós acompanhamos as atividades escolares como quaisquer pais acompanham os filhos, mas não por uma necessidade especial.
Temos um ótimo relacionamento. Nenhuma dificuldade de interagirmos com ele. Ele adora conversar conosco e fala até demais… É uma criança afetiva e acolhedora, amada por todos. Na escola falam sobre ele com muito amor e carinho. Tenho muita história pra contar e conto com alegria porque vejo meu filho alegre e enfrentando bem os desafios por ser autista.
Compartilho a história de João, esperando levar esperança e muita garra aos pais de crianças autistas.
Emily Costa é mãe dedicada que deixou de trabalhar fora para atender e estimular o filho João. Nunca se acomodou ou entregou os pontos. Participa ativamente das terapias de João, reforçando-as em casa. É presente à escola em que João estuda, onde é uma parceira importante. E hoje colhe os frutos do seu trabalho ao ver seu filho bem ajustado à sociedade, mas continua atenta e procura saber sempre mais sobre o autismo. Obrigada pelo depoimento, Emily.