O SmartLab é uma inovadora plataforma de conteúdos educacionais integrados. Tem como um de seus principais propósitos ajudar a transformar a educação de crianças e adolescentes com tecnologia, conectividade e prazer em aprender. Sua estrutura está baseada em três eixos fundamentais: conteúdos educacionais digitais e interativos, formação continuada de professores e ambiente colaborativo.
A equipe do R7 bateu um papo Ana Claudia Ferrari, uma das idealizadoras do projeto e responsável pela curadoria de conteúdos e suporte pedagógico, sobre cidadania digital e sua visão sobre o uso de conteúdos protegidos por direitos autorais a rede e nas salas de aula. Eis o resultado deste bate-papo:
GW: O real e o virtual se imiscuiram de tal forma que uma formação cidadã deve englobar também uma educação em cidadania digital. Foi isso que motivou vocês a implementarem essa iniciativa? Como ela seria feita na prática, explorada nas salas de aula (ou mesmo fora delas, como conteúdo extracurricular)? Pode nos contar uma pouco da experiência que tiveram até então?
AF: Sim, você tem razão. As fronteiras entre real e virtual são cada vez menos delimitadas e a vida de todos nós se torna continuamente mais complexa, conectada, digital, tecnológica e imprevisível.
Isso nos coloca novos desafios, especialmente no que diz respeito à vida online, entendida como uma extensão da vida real, e todos os seus desdobramentos pessoais e profissionais. E a cada dia somos expostos a questões que sequer havíamos formulado.
Foi essa justamente nossa motivação para trazer ao Brasil com exclusividade o curso de Cidadania Digital desenvolvido pela Common Sense Media, uma organização que se dedica a dar suporte a pais e educadores na tarefa cada vez mais importante de preparar crianças e adolescentes para a vida plena e segura no mundo virtual. No fundo, trata-se de levar para a vida digital os princípios de cidadania básicos: ser bom, agir com respeito e responsabilidade e fazer as coisas certas.
Embora tenham nascido num mundo conectado e com dispositivos inteligentes ao alcance das mãos, os nativos digitais precisam de ajuda para se tornar bons cidadãos e para aplicar os princípios que aprendem num mundo repleto de desafios: das mídias sociais ao cyberbullying e ao cybercrime, da adição à internet às questões de privacidade online e ao anonimato. Nenhuma geração antes teve de enfrentar estas questões!
Cidadania Digital estará disponível para o ensino fundamental e médio as escolas Smartlab a partir de agosto. Trata-se de um currículo estruturado para o Ensino Fundamental e Médio e que pode ser idealmente abordado no início do ano letivo ou ao longo do ano, seja nas aulas de tecnologia ou informática, seja por professores de outras áreas. Nos Estados Unidos, onde mais de 100 mil escolas utilizam o material do Common Sense, os usos são variados, mas a ideia é justamente que os desafios que o mundo digital coloca sejam abordadas o tempo todo e por todas as áreas, envolvendo não apenas estudantes e educadores mas toda a comunidade escolar. No Brasil, as escolas reconhecem a necessidade cada vez mais urgente de uma “Educação Digital”, embora não tenham ainda uma agenda definida. Por isso elas consideram um avanço terem um curso de cidadania digital para implementar na Educação Básica. Algumas delas nos adiantam que querem montar programas específicos para preparar crianças e adolescentes a serem cidadãos digitais, com aulas semanais focadas em fomentar uma visão crítica e discutir privacidade e segurança, rastro digital, identidade online, internet confiável, entre outros.
GW: Uma das propostas de vocês é conscientizar as crianças sobre uso de conteúdo e obras protegidas na internet. Em relação a este tema, para vocês, qual a maior dificuldade a ser superada, nesta cultura do “copia e cola”?
AF: O desafio está em fazer estudantes (e muitas vezes os próprios educadores) terem ciência da propriedade intelectual e dos direitos que protegem o autor. O abandono da cultura do copia e cola dependerá da educação e conscientização de questões relacionadas ao direito autoral, algo que devemos fazer enquanto sociedade. A dificuldade maior talvez esteja mesmo na mudança de cultura e será preciso um esforço coletivo de educadores e famílias para que a mudança de fato aconteça.
GW: Aproveitando o assunto de direitos autorais e tecnologia e educação, sabemos que nos países de tradição anglo-saxã é mais ou menos pacífico que uso de obras protegidas, para fins educacionais, constitui “fair use” e, ainda, que aqui mesmo no Brasil a primeira legislação de direitos autorais, um decreto de Dom Pedro que criou os primeiros cursos de Ciências Jurídicas e Sociais no Brasil, nasceu na seara da educação, atrelada profundamente a ela. Como você encara a questão do uso de obra protegidas em sala de aula, entendendo-se, com isso, um conceito amplo de sala de aula, como a veiculação de aulas online, streaming, etc? Até que ponto, na sua opinião, esse uso constitui um “fair use” e em que situações extrapolaria um uso legítimo pelos professores e demais profissionais da educação?
AF: O assunto do fair use é complexo e encontrar o equilíbrio entre a proteção dos direitos autorais e o direito ao acesso a obras e ideias é um desafio que temos de nos lançar enquanto sociedade. Pessoalmente, acho importantíssimo, especialmente num país tão desigual, que estudantes tenham acesso a material de qualidade protegido num contexto educacional, mas reconheço que pode haver extrapolações de um uso legítimo na educação. Essa discussão tem de ser aprofundada no Brasil.
ENTRETENIMENTO R7.COM
Por Giulia Willcox