Futuro incerto – hora de pensar no desenvolvimento profissional.

Alzira Willcox
Professores estarão operando em um mundo diferente no próximo ano, e os administradores precisam pensar desde já sobre a melhor forma de apoiá-los.

Todos experimentamos momentos de grande aprendizado como professores, como pais, tutores de aulas, uma verdadeira força de trabalho em casa, tentando nos adaptar ao mundo da Covid-19. Para os professores, a curva de aprendizado tem sido ainda mais acentuada. Quando todos começam a olhar para o dia de amanhã para ver como será a escola quando a reabrirem, depois de tanto tempo, meus pensamentos se voltam para os professores – como ajudá-los e tentar prever algumas questões com possíveis soluções.
Então, que mudanças ocorrerão, como estarão os professores, houve algum desenvolvimento do professor e que tipo de apoio receberam dos especialistas da educação? Que tipo de apoio esses especialistas precisaram e precisarão ter em vista?

Pensei em cinco aspectos específicos que terão que ser abordados rapidamente e para os quais é preciso começar a fazer planos que visem ao desenvolvimento e suporte a longo prazo.

A seguir, então, cinco pontos relevantes que devem ser observados para que haja perspectiva de sucesso ou que a volta seja minimamente bem-sucedida.

Não ignorar o que houve já que todos (alunos e professores) passaram por algum nível de ansiedade com a pandemia atual e os acontecimentos que vêm ocorrendo mundo afora e no Brasil. O que tudo isso significa para a aprendizagem em geral, para alunos e professores na retomada de um ano que mal começou? Para as famílias também. Os professores precisarão de apoio da equipe pedagógica, pecisarão receber e oferecer empatia, ter habilidade para viver as transformações, ouvir e provavelmente também serem ouvidos porque também estão sofrendo . Será importante que haja uma abordagem de retorno, um projeto sobre o tempo de afastamento, causas e consequências, desafios, novas aprendizagens. E a ênfase nos relacionamentos pode ajudar todos a saírem mais fortes do outro lado e capazes de abordar as questões reais que foram vivenciadas, transformando todo processo de aprendizagem. Uma certeza se faz presente: tudo será diferente. O mundo parecerá e estará diferente. Crianças principalmente viveram em um pequeno mundo familiar durante o tempo da pandemia. As escolas e cursos que ofereceram aulas on-line abriram uma nova janela – aulas em casa. Que diferença isso fará na retomada das escolas? Isso não pode ser ignorado.
É preciso reforçar o espírito de equipe entre os professores e também entre os alunos. Durante um tempo grande de distanciamento social, perde-se a energia do grupo, a vivência de trocas. Então, é necessário que se planejem aulas com trabalhos em grupo, com jogos de equipe. E deve aumentar a colaboratividade entre professores, família e alunos. O momento do retorno é o momento de exercitar a colaboratividade.
Claro que não se pode ignorar perdas no processo ensino-aprendizagem, mas não percamos de vista que houve ganhos também, novas aprendizagens, novas habilidades. Lembremos que não seremos os mesmos – professores, alunos, famílias. E aflora mais que nunca a aprendizagem socioemocional (SEL).
O ensino à distância lançou os holofotes sobre o aprendizado social e emocional para alunos e professores. Para que a aprendizagem socioemocional (SEL) tenha impacto sobre os alunos, os estudos mostram que ela deve estar incorporado em toda a escola – incluindo os professores. Como podemos apoiar ainda mais os professores neste tópico para que todos possamos voltar às aulas presenciais mais saudáveis, felizes e cheios de estratégias para ajudar nossos alunos na mesma jornada? Essa é a pergunta que devemos fazer para preparar o caminho para a volta.
À medida em que o tempo passa, a inquietação entre especialistas de educação, professores, pais e alunos aumenta. Começa a especulação sobre como será para as escolas o “novo normal”, como será a configuração das aulas no retorno? Supomos que ainda temos um longo caminho pela frente. Quando as aulas voltarem haverá ainda diretrizes de distanciamento, protocolos de higienização, tempo menor de convívio. Pode haver uma solução híbrida, mistura de instruções em casa e pessoalmente. Mas o que isso significa para a sala de aula e para a pedagogia? A experiência de aulas on-line será extremamente útil, o professor deverá lançar mão de propostas híbridas de ensino, com uso de recursos tecnológicos e ensino à distância em algumas circunstâncias.Trabalhar com as lacunas tecnológicas – suas, da escola e das famílias – e buscar aperfeiçoamento contínuo na área tecnológica, na certeza de que não há volta: a tecnologia veio para ficar e não cabe mais resistência seja por parte de especialistas, professores ou famílias.
Por fim, tudo tem mais de um lado. Apesar das dificuldades emanadas do ensino à distância em situação de emergência, houve ganhos incontestáveis. Nas famílias houve maior aproximação pais e filhos, os professores entraram nas casas dos alunos, o que levou a um relacionamento muito significativo com os alunos e também com a família. O envolvimento familiar é algo que deve ser cuidado e preservados. Os professores precisam empenhar-se em continuar a construir e manter esses relacionamentos significativos e, sem sombra de dúvida, essenciais à aprendizagem.

E, para finalizar a reflexão que proponho, é preciso que se reconheça o estado de verdadeiro esgotamento, a ansiedade, o estresse que chegaram com a Covid-19. Todos fomos atingidos e os professores que tiveram que se reprogramar, enfrentar aulas on-line para as quais não estavam absolutamente preparados. Na linha de frente, aprenderam a fazer, fazendo, se expondo, enfrentando tudo de novo. E a correria de diretores, equipe de apoio e coordenação para que as aulas se desenvolvam da melhor maneira possível também precisa ser registrada. Capacidade para criar, transformar, acompanhar o planejamento, as aulas, a resposta dos alunos e das famílias e adaptar-se continuamente. Porque, sejamos honestos, existem muitas incógnitas se revelando todos os dias. Os desafios são muitos e os profissionais da educação estão mais extenuados do que o normal. É preciso um tempo para recalibrar e fazer boas escolhas em seus caminhos de aprendizagem, a sua aprendizagem para que haja a desejada transferência para os seus alunos.
Não podemos esperar que todos passem pela experiência da pandemia incólumes e absolutamente equilibrados para recomeçar como se nada tivesse acontecido. É importante que reconheçamos que somos humanos, sofremos e temos que nos preparar para o futuro incerto que temos pela frente.
Humanos, somos apenas humanos, lutando pela sobrevivência em todos os sentidos.