Por Beatrix Porto Guimarães
Sem querer que em meu texto predomine o pessimismo e a real falta de educação do momento, não posso deixar de relembrar a velha e boa relação entre conhecer e aprender, mantida como fator relevante no seio da família – trazia ao jovem o senso de ética, hábitos de deferência, consideração com o próximo, obediência e atenção, base de uma vida saudável -, e a boa formação escolar de um cidadão, muitas vezes contido pelos tempos da repressão, mas sabedor de seu papel na sociedade.
Generalizo? Talvez. Estou a me mostrar saudosista? Sim, por que não me permitir? Vivo dias em que quem deveria ensinar a aprender, mal sabe o que fazer com aqueles, grandes ou pequenos, que estão aptos e desejosos a conhecer. Tempo de uma educação falida, desprovida de compromisso com o saber e fazer humano. Professores na luta por condições mínimas de trabalho e alunos colaborando com estes em uma batalha que me parece sem fim, pois, mantendo as devidas proporções, sempre presenciei isso no decorrer dos anos em que me encontro nessa estrada.
A educação básica, antes atribuída à família, foi transferida para a escola. E frases do tipo “eu pago”, “meu filho não faria isso”, “a culpa é dele”, como ações de descontrole em que comportamentos chegam ao máximo da estupidez, palavras malditas e agressões físicas, se tornaram comuns e vêm fortalecendo a ignorância e a falta de conhecimentos essenciais à vida. Tempo da desconfiança e da banalização de uma convivência pacífica de consideração e apreço.
Ouço, todos os dias, que os jovens ingressam nas universidades, cada vez mais, despreparados. Mas chegam! Mais despreparadas, as universidades. Um jogo do avesso. Os vestibulares se adequam à deficiência da formação escolar. Surgem os cursos “zero”. Matemática, física e química são as favoritas das específicas “zero”. Pode parecer brincadeira. Deveria ser uma piada. Mas o que vem acontecendo com a educação é uma piada! A falência está no ensino tosco, nas estratégias impensadas, mal planejadas, em um alunado que não sabe, muitas vezes, como se expressar.
Quero ver meu aluno escrevendo corretamente, sabendo argumentar com proficiência… Quero ver, ainda, meu aluno – sem precisar de zeros nos cursinhos nem nas universidades – dar um banho de interesse e aprofundamento nas disciplinas dos cursos que escolheram para sua vida profissional. Quero profissionais habilitados e prontos a novas experiências. Quero poder ouvir, sim, o muito obrigado, por favor me dê licença, sem precisar que isso seja regra colada na parede da escola do ensino fundamental.
Preciso acreditar e ter esperança porque confio no ser humano e, quando, bem instruído, orientado, preparado, tem criatividade e competência para reverter situações como esta que vivemos hoje de total desprezo pela educação. Sou uma educadora de essência progressista, mas tenho os meus pés no chão. Sou quem puxa e afrouxa a corda, no tempo certo, para que ela não fique bamba nem corra o risco de arrebentar. Luto pela autonomia e acredito em um ensino voltado para a reflexão. O mundo das entrelinhas precisa de cidadãos que leiam as inferências da vida em detalhes muitas vezes imperceptíveis.
Residente em Niterói, pedagoga e professora de Língua Portuguesa e Literatura, atuante na coordenação de um curso preparatório para vestibulares. Beatrix Porto Guimarães é amante da poesia e das artes em geral e tem publicações em livros como Latinidade Poética, Coração de Poeta e Escrita Viva.