Como avaliar a ação pedagógica de uma escola?

Alzira Willcox

Proponho uma reflexão. Reflexão que antecede a realização do trabalho no ano escolar que se inicia.

Qual é a proposta pedagógica ideal?

Na verdade, não existe uma única proposta que dê conta de tudo o que é importante no desenvolvimento da criança. Nenhuma teoria pura é capaz de atender o ser humano em sua multiplicidade e dar as respostas que a sociedade exige em sua constante mutação, num mundo em que a tecnologia vai dominando cada vez mais.

E então, desprezamos as teorias? Abraçamos as novas práticas que chegam à educação? Adotamos a ideia de que a escola e a educação se tornaram obsoletas e que a Internet dá conta de tudo?

Tenho uma visão menos reducionista de uma boa ação pedagógicae acho importante uma proposta que vise à construção da cidadania como o pilar estrutural, para começar. E que se fundamente em teóricos que pensaram sobre desenvolvimento e educação, abrindo os horizontes para novos pensadores e educadores. O que seria, para mim, a escola próxima ao ideal?

De Paulo Freire colhemos o princípio do saber como ponto de partida para a emancipação política, social e intelectual do aluno. Sem esquecer da responsabilidade que ele delegou ao professor em relação ao comprometimento com o seu próprio crescimento e autonomia no pensar.

Em Piaget, encontramos o mais completo estudo do processo de construção do pensamento lógico e dos estágios psicogenéticos do homem.

Vigotsky nos oferece dados de pesquisa que associam aprendizado e desenvolvimento e, mais, associam o desenvolvimento ao ambiente sociocultural em que o indivíduo vive. O conceito de desenvolvimento proximal traz implicações relevantes e eleva a intervenção pedagógica a patamares importantes no processo de aprendizagem porque acena com a possibilidade de transformação de conceitos espontâneos dos alunos em conceitos científicos. Essa é a intervenção que o Google sozinho nunca fará. Essa transformação na verdadeira aprendizagem acontece através de questionamentos, da geração de dúvidas, de experimentos e propostas que precisam do professor.

Freinet, com a sua certeza: “escola é vida”! Quem ousaria se contrapor a tal afirmativa? Escola é vida e tem que possibilitar transformações e estimular a curiosidade e o crescimento dos alunos.

Emilia Ferreiro ilumina o universo da alfabetização com os seus estudos sobre produção da excrita e o processo de aquisição de linguagem escrita que precede e excede os limites da vida escolar.

E é tão estimulante pensar que o legado desses pensadores se completam e ainda hoje dão embasamento às ações pedagógicas. Ainda que com nova roupagem, acrescidos de novos termos, adornados com palavras como competências e habilidades que sempre existiram e foram objeto de estudos de tantos. Porque, afinal, é a conquista de habilidades e competências o grande objetivo da educação.

Não se pode admitir que a educação continue se limitando à mera transmissão de conteúdos. As verdades prontas e acabadas podem ser facilmente acessadas via Internet. É preciso que a escola tenha uma visão abrangente do conhecimento e, em consequência, seja transformadora. É preciso que a escola interrogue sobre a natureza dos conteúdos que merecem e devem ser incorporados ao currículo, dentro do contexto sociocultural em que está inserida. Esse é o ponto de partida – estabelecer o que importa e como fazer. O currículo não pode ter como característica a fragmentação ou o treinamento para um determinado tipo de prova porque o mundo e, com ele, o conhecimento estão em constante evolução. Que cheguem as novidades metodológicas, os modismos em educação, mas que não nos esqueçamos de que o currículo deve ser significativo e comprometido com o local e o universal, partindo sempre da bagagem cultural do aluno para inseri-lo na cultura mais ampla. Os conteúdos devem ser tratados de forma integrada às situações de aprendizagem para possibilitar que o aluno estabeleça relações com o objeto do conhecimento, associando o aprendido ao vivido. Consideremos que mais importante do que os conteúdos em si são os núcleos conceituais que articulam diferentes áreas do conhecimenti, priorizam habilidades e permitem desenvolver competências básicas.

Acreditamos que o conteúdo seja mediador de um processo mais amplo de aprendizagem e só terá valor se for assimilado pelo aluno que com ele interaja, aplicando-o ao seu universo sociocultural.

Quanto à formação, acreditamos que, em cada ato pedagógico, nas relações, nas trocas de linguagens, na experiência, enfim, a escola está influenciando a constituição de sujeitos, pensamentos e concepções de mundo. Portanto, a aprendizagem mobiliza não só a cognição, mas também afetos, emoções e relações interpessoais.

A todas as considerações elencadas, acrescentamos que o prazer e a curiosidade são elementos primordiais na constituição de significados que permitem a correlação teoria-prática.

E, por fim, acreditamos que o professor continua a ser peça essencial para a aquisição e transformação do conhecimento, devendo colocar-se aberto a cada aluno e situação em sala de aula, reavaliando e reconstruindo, sempre que necessário, suas estratégias e recursos. Sem dúvida a qualificação e atualização docentes são indispensáveis porque é a sua intervenção que determina o maior ou menor aproveitamento do processo ensino-aprendizagem.