A profissão de professor corre perigo?

Alzira Willcox
As inovações tecnológicas, os avanços em IA (inteligência artificial) devem inquietar os professores?

Devem. Não porque robôs criados por IA possam substituí-los, mas porque os novos tempos apontam para a necessidade de uma renovação constante.

Para começarmos a conversar, pesquisas revelam que a tecnologia existente pode ajudar os professores a otimizarem seu tempo, empregando a sua energia em planejamento de atividades que facilitem e apoiem o aprendizado dos alunos.

Os avanços na tecnologia podem resultar em mudanças na estrutura da sala de aula e nas metodologias e modalidades de aprendizagem, mas é improvável que substituam os professores.

Os atributos que caracterizam e tornam professores excelentes são aqueles que IA ou outras tecnologias não conseguem imitar: inspirar os alunos, criar um clima positivo em sala, resolver conflitos, criar conexões de pertencimento no grupo, ver o mundo da perspectiva de cada aluno, orientá-los, apoiá-los e estimulá-los a irem além.

Essa coisas que representam o coração do trabalho do professor não podem e nem devem ser automatizadas. O valor de uma boa educação começa cedo e é para toda a vida, por isso grande é a importância do professor das séries iniciais e da Educação Infantil. E o professor precisa estar preparado tecnicamente, sim, para as mudanças estruturais da sala de aula, mas, sobretudo, precisa ter consciência que seu trabalho não é o de mero transmissor de conhecimentos. Isso, sim, é tarefa que a tecnologia abraça. É importante reconhecer que a tecnologia usada corretamente pode facilitar o bom ensino, mas que o trabalho mais importante está nas suas mãos.

A tecnologia certamente vem mudando a experiência dos alunos com a aprendizagem. Mas a grande vantagem de usar a tecnologia é possibilitar, se bem aplicada, o engajamento do professor na instrução vista para além do conhecimento simples – foco na compreensão e aplicação do aprendido. Orientação e desenvolvimento de habilidades comportamentais, sociais e emocionais. É um tempo adicional que o bom uso da tecnologia oferece.

O tempo adicional que se ganha pode ajudar na aprendizagem das habilidades do século XXI, necessárias ao mundo do trabalho cada vez mais automatizado em que a tecnologia vai imperar.

Por que esse tempo adicional é tão valorizado? Porque é um aceno à possibilidade de se promover a aprendizagem individualizada em que o professor se dedica a dar assistência próxima a cada aluno em suas dificuldades e facilidades.

Mas esse tempo só será valioso se o professor se preparar para engajar-se totalmente na profissão, buscando o aprimoramento das qualidades indispensáveis ao bom exercício do magistério. Sim, isso também se aprende e desenvolve. Ninguém nasce professor. Ser professor exige estudar, ser rigoroso em sua formação e entender que ela tem que ser continuada e que nem tudo é tão somente dominar a teoria. É importante que haja colaboração entre professores, trocas de experiência cada vez mais necessárias. Aulas colaborativas que dobram o aproveitamento no treinamento e se traduzem em bons resultados para os alunos. Aulas colaborativas não precisam necessariamente ser presenciais. Podem ser através de vídeos – uma vez mais a tecnologia ajudando – com professores mais experientes. Ou através da troca de ideias e estratégias de planejamento, mesmo online.

Começamos nosso texto afirmando que o professor precisa preocupar-se com a renovação constante. Sim, o crescimento profissional exige investimento pessoal, exige atualização, exige comprometimento, antes de mais nada, consigo mesmo. Compromisso para fazer o melhor, ser melhor a cada dia, conhecendo a tecnologia para não ser engolido por ela, mas tendo absoluta consciência do seu papel como inspirador, agregador no sentido de criar um bom clima em sua sala e favorecer a conexão entre os alunos entre si e com o mundo em geral, com o saber acumulado por gerações.

O professor, mais que nenhum profissional, precisa não se acomodar, achando que está pronto. Não está. Há sempre o que aprender e há sempre o que ensinar. E é na busca de cada vez melhor desempenho que está a certeza de que a automação, a tecnologia não o ameaçam, não lhe roubarão o lugar, se for PROFESSOR, maiúsculo e verdadeiro, cônscio da importância do seu trabalho que, definitivamente não é de mero transmissor de conhecimentos.

 

conhecimento.