A INTELIGÊNCIA E A APRENDIZAGEM DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS

Alzira Willcox (pesquisa)

A inteligência, na aprendizagem de línguas estrangeiras, tem sido amplamente discutida na perspectiva de sua imutabilidade e mensurabilidade, porém, a partir de estudos realizados, é possível analisar aspectos importantes que transitam entre o nível de inteligência dos indivíduos e as formas de aprender uma língua estrangeira (LE). Pesquisas revelam que esta capacidade apresenta diferenças na aprendizagem entre indivíduos com altos e baixos níveis de inteligência. Os estudantes com altos níveis podem ser beneficiados por uma abordagem de ensino estruturada e sistemática, enquanto os que apresentam níveis baixos beneficiam-se de abordagens de ensino mais abertas, dinâmicas e menos metódicas. (REID, 1998). A inteligência medida pode, ainda, estar mais relacionada ao desempenho individual nas habilidades como leitura, gramática e vocabulário e menos conectada à habilidade de produção oral. (LIGHTBOWN e SPADA, 2003). Diante destas observações, infere-se que o nível de inteligência dos indivíduos pode estar mais relacionado a um tipo de mecanismo mental que é favorecido pelo uso de uma abordagem de ensino de línguas estrangeiras mais estrutural e sistemática e, outra ao contrário, mais abstrata e holística. Este tipo de análise nos remete ao estudo da especialização hemisférica, na qual se supõe que o hemisfério esquerdo é responsável por um pensamento analítico e sequencial e o hemisfério direito por um pensamento mais sintético. (KINSELLA e SHERAK, 1998). Enquanto o primeiro processa as informações linearmente e sequencialmente, o segundo parece organizá-las num processo espacial e visual. O primeiro pode ser pensado como um computador e o segundo como um caleidoscópio. (WILLIAMS, 1986). Parece, portanto, haver uma relação maior entre mecanismos mentais e formas individuais de aprendizagem do que aprendizagem e níveis de inteligência. Sabe-se que os hemisférios cerebrais trabalham juntos para análise e síntese das informações, mas supõe-se que pode haver alguma predominância de um sobre o outro. Desse modo, os indivíduos com a predominância cerebral esquerda poderão beneficiar-se de uma abordagem de ensino que promova a linearidade, a racionalidade e a objetividade enquanto aqueles com predominância hemisférica direita estarão mais receptivos a uma abordagem de ensino que estimule uma aprendizagem experimental, atividades variadas e conectadas contextualmente. (KINSELLA e SHERAK, 1998). A relação entre os hemisférios cerebrais, a inteligência em desenvolvimento e a aprendizagem de línguas estrangeiras pode ser estabelecida à medida que se coletem informações quanto à aplicação em sala de aula de estratégias que explorem as diferentes especialidades de cada hemisfério, bem como se observe de que forma o uso de diferentes práticas desenvolve e melhora o desempenho dos aprendizes na aquisição de uma LE. (WILLIAMS, 1980). Segundo Stevick (apud BROWN, 1994, p. 109), os aprendizes cujo hemisfério dominante é o esquerdo parecem compreender melhor a língua estrangeira quando lidam com palavras separadas, deduzem as especificidades da linguagem e trabalham com a abstração; por outro lado, aqueles aprendizes que apresentam predominância cerebral direita parecem responder melhor às tarefas propostas, quando lidam com o todo, com a arte, imagens e metáforas.
Supõe-se que, ao utilizar métodos de ensino de línguas que apelem demais para o uso do hemisfério esquerdo, por meio de uma aprendizagem que explora a linguagem de forma sequencial e analítica, o professor desfavorece aqueles aprendizes que utilizam mais as imagens ou uma aprendizagem holística, integrativa e emocional. Neste contexto, a questão central não parece tratar-se da pequena ou da grande quantidade de inteligência de um indivíduo, mas da forma como estes processam, retêm e utilizam as informações essenciais para a aprendizagem de LE ou para a criação de produtos e resolução de problemas culturalmente importantes. Não se pode afirmar que um indivíduo, beneficiado pela contextualização de um tema curricular qualquer para compreensão de determinado conteúdo, seja considerado menos inteligente do que aquele que independe do contexto ou da experimentação. Tal informação é relevante apenas para informar que ambos respondem de forma diferente à aprendizagem. O objetivo do professor como facilitador da aprendizagem deveria ser, portanto, o de criar meios para que o ensino  se aproxime da forma de aprender do estudante. Assim, cada aluno conseguiria descobrir o aspecto que mais lhe favorece e, por sua vez, o resultado do ensino terá correspondido ao potencial de inteligência almejado por cada um dos envolvidos na aprendizagem.

Ou seja, o ensino de língua estrangeira tem que contemplar muitos tipos de estratégia para atingir diferentes tipos de inteligência.

O professor tem que estar preparado e seguro dos princípios que norteiam toda a proposta de trabalho com LE. A teoria é um importante suporte para dar segurança ao professor em seu trabalho e responder com assertividade quando questionado pela equipe pedagógica da escola ou curso onde atua e pelos pais.

É importante saber o que faz, porque o faz, como o faz, com respaldo teórico porque não se pode admitir que se trabalhe apenas empiricamente. Há que se buscar sempre um novo caminho, diversificar propostas e, sobretudo, tornar as aulas interessantes e instigantes.