A criança e as tecnologias

Alguém tem dúvida que a tecnologia presente à era contemporânea provoca mudanças e impulsiona a transformação cultural e social?

Evidente que não há dúvidas sobre essa questão. O mundo está se transformando e a sociedade contemporânea enfrenta no dia a dia as mudanças impostas pela evolução tecnológica. A tecnologia não só cria novas formas e espaços de possibilidades a serem explorados, como certamente afeta o modo como pessoas aprendem, pensam, interagem e se relacionam.

E as crianças diante desse novo paradigma da sociedade?

Cada vez mais vemos crianças portando e usando celulares e tablets, entrando em contato com o mundo através da internet. Atualmente a tecnologia para as crianças é uma fonte de entretenimento e aprendizagem e em algumas ocasiões se converte até em recurso perfeito quando os pais estão ocupados e não podem dar-lhes atenção. Por um tempo lança-se mão das “babás eletrônicas”…

Para crianças em idade escolar a tecnologia traz incontáveis benefícios:

  • computadores podem ser usados para pesquisas;
  • as consultas na internet aumentam a habilidade linguística, sem dúvida;
  • sites com programação educacional podem ser acessados para enriquecer a bagagem de conhecimentos – documentários e outros programas educacionais;
  • mesmo os jogos online podem desenvolver algumas habilidades – coordenação mão/olhos, marcação de tempo e alguns até oferecem atividades físicas, como dançar.

Mas todos os dispositivos tecnológicos/eletrônicos maravilhosos apresentam algumas desvantagens em relação à educação das crianças. Eis que há algumas razões para limitar o uso exagerado da tecnologia para crianças. Como fazê-lo? Esse novo mundo traz prejuízos à criança? Como agir, se nós, do mundo adulto, nos tornamos praticamente reféns das tecnologias?

Há alguns prejuízos.

  1. Pode interferir no sono e a criança precisa dormir bem e por mais tempo do que os adultos. Quanto mais estímulos eletrônicos, como ver televisão ou usar computador (ou tablet, ou celular), mais interferência no sono, seja diminuindo o tempo do sono ou trazendo dificuldade para acordar.
  2. Pode interferir também na dinâmica familiar, dificultando a interação pessoa a pessoa. Quando se está envolvido com um aparelho eletrônico, não se conversa com os familiares, não se interage. É preciso haver um tempo em família para conversar ou até mesmo jogar junto. Se cada um está com seu celular ou tablet, embora estejam todos sentados na mesma sala, não estão interagindo, não há contato interpessoal.
  3. Estudos revelaram que o uso exagerado da tecnologia – crianças muito tempo fixadas em uma tela podem ter diminuído o seu nível de atenção em geral.
  4. Pode prejudicar o desempenho escolar, subtrair tempo dos trabalhos de casa, diminuir a leitura de livros. Enfim, baixar o rendimento escolar.
  5. O hábito de estar constantemente sentado diante de uma tela reduz a atividade física e favorece a obesidade.
  6. E muita atenção à possibilidade de a criança acessar algum site inapropriado, ou mesmo anúncios voltados para o mundo adulto. E mais, os anúncios de brinquedos que fascinam os pequenos e lhes despertam o desejo de possuir igual.

Como fazer, como limitar o uso demasiado de tecnologias?

Há algumas regras básicas. Basta estabelecer uma espécie de contrato com as crianças e cuidar para que seja cumprido.

  1. Nada de TV ligada ou computador na hora das refeições que devem ser feitas na mesa, em local apropriado. Se possível, em família.
  2. Estabelecer horários e tempo para os diferentes aparelhos. O horário de estudo é prioridade máxima. Nada que distraia das tarefas de casa pode ser admitido.
  3. Participar da escolha de jogos e programas que a criança vai acessar e chegar junto, sempre.
  4. Oferecer alternativas interessantes para passar o tempo em família sem usar qualquer dispositivo eletrônico. Propor jogos de salão, jogos de tabuleiro, quebra-cabeças, jogos ao ar livre nos fins de semana e feriados. E uma sessão de leitura. Há muitos bons livros e pode-se propor uma espécie de jogo para estimular – cada um lê uma parte do livro e depois todos participam dos comentários.

Não temos a pretensão de apresentar uma receita infalível. A tecnologia é uma realidade, excelente, por sinal, e o objetivo é dela extrair o máximo de benefícios e o mínimo de prejuízos. Nem se trata de afastar a criança dos dispositivos eletrônicos que já fazem parte da vida familiar. Trata-se de fazer bom uso deles porque as vantagens são certamente muito grandes. Limites são necessários, sempre apelando para a resolução conjunta. Funciona.

Alzira Willcox de Souza