Bia Willcox
A fábula da cigarra que canta e da formiga que trabalha é bastante conhecida por todos, ocupando o consciente coletivo que se sente compelido a trabalhar, provisionar e se prevenir, tornando-se culpado quando não consegue fazer nada disso. A moral dessa história é simples: a cigarra não “carrega o piano” porque, como artista especial que é, encanta a todos com a sua arte e possibilita às formigas (contingente comum) trabalharem felizes ouvindo a sua música.
Nos dias de hoje essa história com certeza teria uma nova versão.
Era uma vez uma formiga que trabalhava muito. Geria seu próprio negócio fazendo de tudo um pouco. Atuava em todas as áreas de sua empresa: varria chão, atendia aos clientes, desenvolvia planilhas, redigia contratos e lidava com seus prestadores de serviço. A formiga mal tinha tempo pra se divertir. Provisionava pra o inverno dos tempos difíceis e projetava crescimento regularmente. Como boa empreendedora, cuidava da sua imagem – marketing pessoal fazia parte de suas atribuições. Uma verdadeira estrela, publicando seus feitos em mídias sociais, dando declarações, entrevistas para revistas de celebridades e formando opiniões – uma show woman, ou melhor, uma show ant!
Nesta mesma história havia a cigarra – cantora e atriz talentosa cujo atributo maior era divertir quem a assistia atuando e cantando nos palcos. Mas a cigarra não podia se dar ao luxo de somente exercer sua habilidade artística. Para sobreviver no mercado de insetos, ela teve que montar uma pequena empresa, uma produtora, para administrar seus contratos, seus cachês, seus assessores e mesmo os seus shows. Tinha que discutir percentuais, conversar com seu advogado, fazer publicidade, passar fins de semana em ilhas luxuosas de insetos-celebridades para tirar muitas fotos para revistas e sites de insetos-celebridades. Ela ficava cansada sem sequer cantar – o que ela mais gostava de fazer.
Nunca se via a cigarra descansar ou cantar no chuveiro! Estava sempre ocupada em questões do showbiz. Cigarra raladora!
O final da história? A cigarra contratou a formiga como consultora de negócios e a formiga criou mais uma empresa, desta vez de assessoria e agenciamento de artistas, tendo a cigarra como seu primeiro cliente. As duas fecharam negócio brindando com champanhe ao som do novo álbum da cigarra, remasterizado com a tecnologia de seu estúdio de som. Não lhe parece uma parceria de futuro?
Esse é o novo mundo do empreendedorismo e investimento pessoal. A educação não pode ficar alheia à mudança de paradigmas do século XXI e fábulas podem ser atualizadas.
Empreendedorismo em educação é sobre inspirar, despertar o potencial empreendedor de jovens, levar ao ponto a que chegaram “a formiga e a cigarra”. Os jovens podem desenvolver a mentalidade, habilidades e conhecimentos geradores de ideias criativas e mais, desenvolver também o espírito empreendedor, a iniciativa e serem capazes de transformar ideias em ação. Isso se aprende, sim.
Sai na frente a escola que oferece aos alunos a oportunidade de se prepararem para serem futuros empreendedores e escreverem novas fábulas.
Bia Willcox é educadora, empresária, jornalista, produtora de conteúdos e diretora executiva do grupo WOWL.