Alzira Willcox de Souza
Felicidade é algo que todos nós almejamos alcançar e pesquisas apontam que tanto a felicidade como o bem-estar podem ser ensinados! Será?
Sim. Nos Estados Unidos, já existem cursos de “Ciência da Felicidade”, em Harvard e na University of SouthernCalifornia.
Por outro lado, ninguém ignora que o bullying é uma questão séria com a qual muitos estudantes e pessoas em geral têm que lidar o que faz com que depressão e ansiedade cresçam entre a população. Há uma previsão que, por volta de 2020, ansiedade e depressão serão a segunda causa de sofrimento humano em todas as idades.
A boa notícia é que as pesquisas sobre a felicidade apontam para um futuro menos sombrio.
A grande novidade é que não é tão difícil adquirir, aprender as habilidades necessárias à felicidade. De acordo com o neurocientista Richard Davidson aprender a ser feliz pode ser comparado a jogar tênis. “Você não pode chegar a Wimbledon na primeira semana, mas, se continuar praticando intensamente, você certamente vai melhorar muito no tênis.” Embora alguns estudantes tenham aparentemente uma disposição maior para a felicidade, qualquer um pode tornar-se mais feliz. Sonja Lyubomirsky, Ph.D em psicologia social na University of California, Riverside, afirma que a felicidade é influenciada por nossos genes, pelo meio ambiente, mas também por atividades em que nos empenhemos. Traduzindo em números como é do gosto dos americanos:
• 50% são causas genéticas.
• 10% são fatores ambientais.
• 40% é influenciado por atividades intencionais, com o objetivo de encontrar a felicidade.
Essa é a boa notícia que significa que estudantes e as pessoas em geral podem exercer influência sobre os níveis de felicidade a serem atingidos através de práticas intencionais. 40% não é pouco e vale a pena investir, sabedores que felicidade pode ser aprendida. Como?
As habilidades que envolvem a aprendizagem social e emocional, com a sigla SEL (Social Emotional Learning) em inglês e a felicidade/bem-estar são a esperança de grande ajuda às futuras gerações. Por isso, devem ser trabalhadas desde muito cedo e as crianças precisam vistas nesse processo ainda bem pequenas.
Vamos analisar situações e quais são as possibilidades de ensinar a ser feliz.
Quando traçamos um objetivo ou firmamos uma intenção, é preciso ter clareza do que desejamos obter. Para começar, é preciso considerar e entender que há dois tipos de felicidade, uma que é imediata e outra que é duradoura. A primeira é a gratificação instantânea, largamente conhecida por pessoas de todas as idades.
Tomemos a criança como exemplo. Coisas como balas, sorvete, um brinquedo novo fazem-nas felizes momentaneamente ou em curto período de tempo. O que acontece depois que obtêm o objeto desejado? A excitação pelo novo se dissipa e elas se desinteressam em relativamente pouco tempo. Lembremos-nos que nos adaptamos ao novo rapidamente. Então, desejamos algo novo, de novo, e o ciclo continua. E, cá entre nós, isso não acontece só com as crianças.
Qualquer um que trabalhe com crianças sabe que elas vivem o momento. Quando estão felizes, sabemos que estão felizes nesse exato momento. Então, como ensinar a diferença entre felicidade de curta duração e de longa duração a alguém que vive o momento? Além de fazer compreender o conceito de felicidade duradoura, como se ensina o valor da felicidade duradoura?
É um desafio, mas os pesquisadores apontam três maneiras de ensinar felicidade. Vamos a eles.
Três dicas para ensinar felicidade.
1. Rápida consciência corporal
O corpo é um poderoso mecanismo de respostas. De fato, muitas emoções que sentimos têm origem no corpo ou nele se refletem. Então, trata-se de aplicar esse conhecimento a favor da felicidade. Se observarmos algumas falas, podemos avaliar como a pessoa se sente. Analisemos duas frases. “Eu tenho borboletas no estômago” ou “Eu tenho um buraco no estômago”. Essas são mensagens enviadas constantemente pelo nosso corpo e é preciso ouvi-las porque são úteis. Prestar atenção ao que a criança diz em relação ao seu corpo em diferentes situações nos ajudará no trabalho para desenvolver a sua consciência corporal e ajudá-la a ter controle sobre ele. Ajudar a criança a expressar o que está sentindo é o primeiro passo para emergir a consciência corporal.
2. Ajudar a criar um ambiente de calma
Sabemos que o corpo e a mente estão intrinsecamente ligados. Então, quando mudamos o estado físico, também mudaremos o estado emocional. Como podemos fazer isso?
• Através do relaxamento – respirar bem devagar e profundamente é um caminho poderoso para se acalmar em situação de estresse. Ao perceber tal situação, é hora de se aproximar da criança/aluno para ver como está reagindo o seu corpo, o que está sentindo e propor o relaxamento pela respiração. No mínimo cinco vezes.
• Através do movimento – quando a amígdala cerebral é ativada por sentimentos de raiva, tensão ou opressão, um caminho rápido para encontrar o equilíbrio é através do movimento. Faça as crianças/alunos pularem aceleradamente para relaxarem as emoções e reequilibrarem-se. A ideia é propor exercícios de movimento para mudar o seu estado emocional através da mudança do estado físico.
3. Expressar a variedade de emoções
Felicidade tem muitas faces: alegria, inspiração, grande contentamento, contentamento silenciosos, riso fácil e incontrolável e muitas outras formas de expressão.
Ira tem também diferentes aspectos e manifestações: frustração, raiva, desapontamento, mágoa, estado de confusão mental, etc.
A ideia é propor um jogo em que os alunos possam expressar as emoções através de mímica ou dança, sessões de teatro (drama em inglês), dramatizações de momento, representando situações para que o resto da turma adivinhe e diga de que emoção se trata.
Atividades simples como essas podem desenvolver, e o fazem, um conhecimento profundo da variedade de experiências humanas. Quando nomeamos as emoções, podemos mais facilmente domá-las, controlá-las antes que venham sobrecarregar a mente jovem. Trabalhados para essa conscientização desde muito novas, as crianças têm possibilidade de descobrir cedo o caminho para o bem-estar e a felicidade.
A pesquisa sobre ensinar felicidade é relativamente nova. O que depreendemos de tudo o que lemos é que a felicidade é um estado da mente diretamente ligado ao emocional e ao social. Então ganha importância o trabalho com a aprendizagem social e emocional (Social Emotional Learning). Ensinar às crianças o autoconhecimento e o autocontrole é o caminho para o bem-estar e, em última análise, a felicidade.
Felicidade é substantivo abstrato e, como disse acima, tem muitas faces. Pra cada um pode ter uma representação. O que faz você feliz? O que faz meu filho feliz? O que me faz feliz?
O primeiro passo é descobrir o que realmente nos faz feliz. Não a felicidade momentânea e passageira, não o riso fácil, muitas vezes desmotivado, a futilidade do instante. Mas a felicidade traduzida em bem-estar interior, satisfação plena consigo e com o mundo à sua volta.
A proposta de trabalhar a aprendizagem emocional e social (SEL) em escolas vai definitivamente ajudar os alunos a descobrirem o caminho para a felicidade. E claro que essa não é uma responsabilidade apenas dos professores, cabe à família estar atenta e agir, educando nesse sentido. Como? Prestando atenção à reação da criança, ajudando-a a se conhecer e adquirir domínio sobre essas reações.
Felicidade pode ser ensinada? A minha conclusão é que a felicidade é um estado interior de bem-estar e que, através do autoconhecimento e autocontrole, podemos alcançá-la. E isso se aprende. Não se trata da felicidade que se obtém através do que é material, do que depende do outro, de festas, viagens e shoppings. Essa é momentânea.
Enquanto valorizarmos a felicidade instantânea e de curta duração, estaremos delegando ao outro e a fatores externos a tão desejada felicidade. Felicidade interior, traduzida em bem-estar – foi disso que falamos o tempo todo. Trabalhando o emocional e social, a escola estará dando um grande passo para que os alunos se conscientizem do que realmente é FELICIDADE.