Como lidar com a ansiedade dos jovens no ano do vestibular?

“Estamos no apogeu da indústria do lazer, mas nunca houve uma geração tão triste e depressiva como a nossa.”

(Augusto Cury)

Trabalhar com jovens me faz sentir jovem e me conduz, obrigatoriamente, a uma readaptação à realidade. Diferentes são os contextos: sociais, linguísticos e tecnológicos em que eles se encontram. Necessário manter uma conexão. Comunicação exige interação. Interagir é fundamental no papel que desempenho como orientadora educacional em um curso pré-vestibular.
Diariamente sou procurada por alunos de diferentes faixas etárias com demandas totalmente variadas. São questões de dificuldades relativas aos conteúdos abordados em sala, situações de empatia ou falta dela com colegas e professores, busca por ajuda na organização de horários de estudo diários… Pedido de abraço! Sim. Parece estranho nessa faixa etária, não é? Mas esse abraço tem feito a diferença.
Entre tantos atendimentos, aquele que considero mais relevante é o que me conduziu ao desejo de escrever este texto: o número de jovens com sintomas de ansiedade acirrados entre 17 e 20 anos. Alguns não conseguem verbalizar o que sentem e só percebem uma força que vai do encontro ao desejo de fazer o que eles querem: manter o foco em uma atividade, principalmente na redação – modelo este ou aquele, cobrados nos vestibulares de diferentes universidades do Brasil.
Tremores, suores, discurso de desânimo e, o que é pior, o uso de medicamentos controlados para depressão, utilizados a Deus dará, causando tanto sono que o aluno não consegue se concentrar e produzir. Como lidar com isso não sendo profissional da área de saúde, mas estando em contato com esses sintomas e tomada por uma vontade de ajudar que vai além da função que exerço?
Primeiramente o acolhimento. A conversa tranquila, tentando tirar a barreira que se forma naturalmente entre coordenação e aluno, o mais velho e o mais novo, o jovem e o adulto. Apenas palavras que nos conduzem à certeza de que somos passíveis de sentimentos conturbados quando estamos em conflito, buscando corresponder a expectativas, rememorando frustrações, nos conscientizando de nossas fraquezas e dificuldades.
É importante manter um elo de confiança. Aí, sim, consigo indicar uma ajuda terapêutica e/ou orientar como estudar. Enfrentar o problema é fundamental, entretanto o tempo de cada um é diferente e precisa ser respeitado de acordo com a capacidade de superação. Estar disponível para ouvir e se mostrar gente independentemente de lugar e hora.
Ajudar a amenizar a tensão do aluno alivia a minha angústia diante da percepção do quanto o jovem se distancia de um potencial não descoberto, criando bloqueios e ideias de incapacidade que geram a ansiedade e criam barreiras para se organizarem e encontrarem uma forma de estudar que seja útil e produtiva.

 

Beatrix Guimarães, pedagoga, professora de literatura, gramática e história da arte, amante da palavra bem dita, forma de interação verbal importante para exposição de ideias, emoções, fatos corriqueiros que marcam a vida de todos nós.