Quem nunca ouviu essa exclamação? Cada vez mais os pais acreditam que o seu filho é o mais esperto de todos. Verdade seja dita, as crianças da atualidade estão, a cada dia, mais “espertas”. Mas o que significa ser esperto? No caso, ter um vocabulário amplo, reter uma quantidade enorme de informações (que normalmente incluem determinados conteúdos pedagógicos, como cores, formas, letras e números) e ter uma incrível habilidade com eletrônicos. De forma geral, são estes os quesitos avaliados quando se classifica atualmente uma criança como esperta.
Venho agora aqui tentar aprofundar esta reflexão. Será que ser esperto significa possuir apenas habilidades cognitivas? Penso que não. E a habilidade motora? E a inteligência desenvolvida por aqueles que sobem em árvores, escalam pedras, brincam de bolinha de gude, piques, constroem com areia, barro, etc? Não se enquadrariam na classificação de espertos?
E as relações interpessoais? A tão falada inteligência emocional? Fundamental nos dias de hoje. Com certeza, reside nela a esperteza maior nos tempos atuais. Saber se relacionar em qualquer ambiente, tolerar as frustrações, saber lidar e respeitar regras, ser resiliente (ou seja, conseguir sobreviver às tempestades), ser flexível, usar a criatividade, ser empático, ter iniciativa e autonomia, ser proativo, refletir sobre as próprias ações e se modificar para atingir os objetivos… Sem dúvida, essas são as características que de verdade levam os filhos a serem bem sucedidos na vida e em qualquer profissão.
Urge pensar como nós, pais e profissionais da área de educação, temos contribuído para que as crianças desenvolvam essas características.
Nas famílias, tratados como príncipes e princesas, de forma geral frutos de um grande projeto dos pais que não pode fracassar, as crianças desenvolvem o individualismo, o consumismo, o materialismo, a competitividade e a dificuldade de lidar com frustrações.
Nas escolas, muitas vezes, reforçamos a competição no lugar da colaboração, não incentivamos a criatividade, a iniciativa, a flexibilidade, a solidariedade.
Como psicóloga clínica e escolar de crianças e adolescentes, e mãe, penso ser urgente repensar a nossa classificação de “esperto” e avaliar no que devemos de fato investir na educação das crianças. Duas palavras, no meu ponto de vista, resumem o essencial: FIRMEZA E AFETO.
*Rita Melo – Terapeuta Cognitivo-Comportamental Crianças e Adolescentes, Psicomotricista, Psicóloga Escolar e Consultora em Desenvolvimento Infantil.