Alzira Willcox
Vamos trazer, nessa quarta-feira de cinzas, um pouco da história do carnaval que começou no Brasil com o Entrudo. É bom conhecer a origem da nossa festa mais popular.
Origem do carnaval
O carnaval presenciado por Debret era chamado, então, de entrudo. Fora introduzido no Brasil pelos portugueses, provavelmente no século XVI, mas sua origem remonta à Idade Média e designava uma série de brincadeiras que variavam de aldeia em aldeia.
Para outros estudiosos, a história do carnaval é ainda mais antiga e está associada às Saturnais romanas, festas pagãs em honra a Saturno, e realizadas em dezembro. Durante as Saturnais, os escravos ocupavam o lugar dos senhores, satirizavam-nos e comportavam-se como homens livres. Talvez isso explique o fato do carnaval ser uma provocação à ordem instituída.
Outros autores ligam a origem do Carnaval às Dionisíacas ou Bacanais, festas realizadas na Grécia e em Roma antiga em honra a Dionísio ou Baco, deus do vinho. Estas festividades incluíam manifestações de euforia com danças, provocações, cortejos musicais e encenações.
Seja como for, o carnaval brasileiro está diretamente ligado ao entrudo medieval. Uma das obras mais antiga e característica, alusiva a essa festa popular é o quadro de Pieter Bruegel, o Velho, intitulado Luta entre o Carnaval e a Quaresma (1599).
O quadro está dividido em duas partes representando respectivamente, o carnaval e a quaresma. A parte central e à esquerda, simboliza todos os excessos próprios do carnaval: música, jogos, bebidas, comida, desordem e euforia. A metade oposta, à direita, representa a austeridade da quaresma, período de renúncia, penitência e recolhimento.
O entrudo no Brasil
Brincava-se o entrudo dentro das casas senhoriais em que os jovens lançavam entre si limões-de-cheiro, como registrou o pintor inglês Augustus Earle, em sua segunda passagem ao Brasil, em 1822. Até mesmo o imperador D. Pedro II participou da brincadeira, conforme noticiado pelo jornal Gazetinha, de 1882.
Mas a folia maior acontecia nas ruas das cidades envolvendo escravos e forros. O conteúdo dos limões-de-cheiro variava de água de chafarizes, a café, groselha, tinta, lama e até mesmo urina. O lançamento de polvilho ou outro tipo de pó completava a molhadeira.
A partir de 1830, a brincadeira passou a sofrer críticas por parte de alguns setores da população levando a repressões policiais e a proibições legais. A festa da rua, popular e negra começou a ser vista como uma manifestação grosseira e perigosa.
Em meados de 1840, um grupo teatro italiano organizou no teatro São Januário, no Rio de Janeiro, “um carnaval veneziano de máscaras”. Inaugurava-se uma nova fase do carnaval brasileiro, separando os festejos da sociedade branca do entrudo dos negros. Clubes privados passaram a organizar o carnaval para seus sócios. Lojas da Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, anunciavam a venda de fantasias e máscaras. Entre elas, ganhou popularidade as dos personagens da commedia dell’arte italiana – Pierrô, Arlequim e Colombina – que acabaram se incorporando ao folclore urbano e literário nacional.
Depois de algumas tentativas de coibir o entrudo, ele foi proibido em 1854. Mesmo assim, continuou sendo realizado, porém em menor escala. Ainda na década de 1880, o entrudo anárquico ocorria nas ruas centrais da corte, como registrou Ângelo Agostini, enquanto nos salões aristocráticos brincava-se o carnaval organizado da elite imperial.
“Os bailes carnavalescos de salão – privatizando um divertimento público para os sócios dos clubes e os que podiam adquirir ingresso – haviam se tornado a marca de distinção, coisa de gente fina. Em oposição ao “entrudo moleque”, festa pública para o grande público, evento de rua e alvo designado das cacetadas da polícia. (ALENCASTRO: 1997, p.53.)
Até hoje o carnaval sobrevive como a maior festa popular do país.
E o ano vai começar…
Acabou o carnaval e, embora muitas escolas tenham dado início ao ano letivo, a cultura do Brasil é começar o ano pra valer, mesmo, depois do carnaval. Então, que o ano letivo seja proveitoso e enriquecedor.