Ana Paula David
Quando fui convidada por este blog para escrever sobre Yoga Infantil, achei o máximo. Depois caiu a ficha do desafio e , logo depois, veio a expectativa. Não de quem me convidou, mas minha comigo mesma. Travei. Demorou para eu tomar coragem e encarar de novo a tela branca do computador.
Comecei a pensar nas aulas para criança e como elas chegam sem expectativa de nada, com o coração livre para o novo. Sem julgamento, preconceito ou intenção de fazer o certo. Somente de estar lá.
A aula vai fluindo, até a hora em que elas começam a achar aquela atividade desinteressante, monótona. Aí entra o papel do bom professor: com humildade, perceber sua limitação diante da infinita criatividade e sinceridade desconcertante desses seres enormes.
Dar aula para crianças é colocar um espelho à sua frente. Se a aula está chata, elas demonstram logo, de imediato. Desconcentram sem pudor ou sugerem outra atividade. Eu acho o máximo. Confesso que elas me ensinaram muito sobre “ensinar”. Aprendi a realmente prestar atenção à necessidade do outro e, imediatamente, mudar a dinâmica da aula para atendê-la.
Comecei a dar Yoga Infantil numa escola no Rio. Chegamos lá – eu e a Danda Pimentel, também professora de Yoga – com uma sequência lindamente planejada, prontíssima. Colocamos cada criança (de 5 a 6 anos) num tapetinho, como adultos. Nos primeiros 20 minutos, tudo fluiu maravilhosamente bem, pois estavam muito curiosos. Depois, foi um caos. Eles queriam trocar de lugar, ir para o lado do amigo, enfim: logo vimos que esse não era o caminho e começamos a planejar somente o conteúdo da aula (quais posturas, relaxamentos e pranayamas) sem determinar a forma. O formato eram as crianças que davam. Sugeriam brincadeiras de morto-vivo, seu mestre mandou, teatro, música para meditação. Assim continuamos: ouvindo as crianças. Tudo começou a dar certo. A criança se tornou coautora daquela realidade. Da sua realidade, naquele momento.
Eu realmente me emociono quando a criança diz o que quer fazer, negocia comigo uma atividade e, dentro disso, pratica o que mais importa no yoga: a consciência de si mesma e da sua conexão com o universo, através da respiração e do corpo.
Até que chegam os pais para verem a aula. É aqui que voltamos à traiçoeira expectativa. O que mais ouço dos pais: “Meu filho é muito disperso. Yoga é assim mesmo, professora? Ele não fez nada. Não se concentra”. Ou ainda: “meu filho é muito autoritário, quer mandar sempre.” Dizem isso na frente das crianças, como se elas não existissem.
Comento que é assim mesmo, que Yoga Infantil é diferente da aula para adulto e peço para que observem os filhos em casa. É comum os pais retornarem, dizendo que a criança não para de fazer uma determinada postura (asana).
Tenho um aluno de 5 anos que, a pedido da professora, está ensinando aos outros alunos a respiração do “balão” (levantar e abaixar os braços inspirando e expirando). Isso porque ele é considerado “distraído” pelos pais.
Uma outra criança, ouviu da mãe que ela era muito agitada. Na mesma hora a menina disse: “Borboleta!” A mãe respondeu: “borboleta só em casa filha!“, pensou que fosse um livro. A menina sentou no chão e fez a postura da “borboleta” (Badha konasana).Nessas horas, o que me vem à cabeça é sempre o mesmo pensamento: acho que quem está precisando de Yoga Infantil são os pais.
Namastê!
Ana Paula David pratica Yoga há mais de 20 anos. Sua paixão por Yoga Infantil nasceu na sua Formação em Yoga pela Premananda Yoga School, onde realizou um projeto de Karma Yoga numa escola do Rio de Janeiro, implementando essa prática milenar na sala de aula. A partir daí, desenvolveu uma metodologia própria de ensino, onde a criança é coautora da aula. De forma lúdica, o pequeno iogui toma consciência do seu corpo, de si mesmo e do universo em que vive, desabrochando seu potencial divino e criativo.