Alzira Willcox
Não, ninguém podia imaginar, nem no mais terrível delírio, que viveríamos uma pandemia que mudaria verdadeiramente todos os paradigmas e afetaria o mundo todo. Aconteceu. E mal o ano começou alguns países deram os primeiros sinais. Tudo começara na China que, segundo consta, demorou a dar o alerta à OMS.
Mês de março no Brasil, pós carnaval, as aulas tinham começado pra valer. Período de adaptação, o ano escolar tendo início, engrenando. De repente, o susto. O temido Coronavírus chegara ao Brasil e ameaçava entrar com força. As autoridades, orientadas pela OMS, decretam isolamento social, suspendem as aulas, impõem o home office. Pais e filhos em casa. Por quanto tempo? Ninguém poderia precisar.
E, então, começa uma nova história. Passado o período de perplexidade, os ajustes. Algumas escolas mais tecnológicas, alguns cursos de línguas como o Wowl, desdobraram-se para iniciar as aulas on-line. Aulas síncronas, ou seja em tempo real com interação entre professor e alunos. Tudo providenciado com a necessária proficiência. Professores que nunca tinham dado aulas on-line se prepararam com a urgência que a situação pedia para desempenharem o seu papel da melhor maneira possível. Aulas replanejadas, material preparado, ferramentas da Internet escolhidas e mãos à obra.
Os pais foram apanhados de surpresa. Trabalhando em casa e tendo que dar apoio às aulas on-line dos filhos. Tudo muito novo.
Começaram a chamar de homeschooling a assistência que os pais tiveram que dar às crianças em casa frente à novidade de aulas on-line. Não, não se trata de homeschooling. Homeschooling é uma escolha que alguns pais fazem, optando por não matricularem os filhos em nenhuma escola e estabelecerem o planejamento das aulas e a metodologia que desejam para as crianças. Podem eles mesmo ser os professores ou tratarem professores particulares para desempenhar essa tarefa. Mas o que se está vivendo não é bem isso. A situação nunca antes vivida, que fechou as escolas, obrigou a busca de uma saída. Em tempos de tecnologia avançada, por que não aulas on-line? Mas essa opção, muito providencial, é nova para escolas, cursos e famílias. Os pais precisaram participar das aulas on-line para tirar dúvidas e até ajudar no manuseio dos computadores. E esses pais estão trabalhando em casa. Haja energia para dar conta de tudo. Estamos falando de escolas privadas.
Aos poucos a situação vai se acomodando, mas a demanda de participação dos pais continua. E, enquanto alguns já se adaptaram à nova rotina, outros se debatem em dificuldades, dúvidas, pouca disposição e até oposição.
Algumas escolas, nada tecnológicas, totalmente conteudistas, custaram a se dar conta de que algo precisava ser feito. Demoraram a tomar a decisão. Muitas optaram por aulas on-line assíncronas que são gravadas e não permitem interação professor e alunos. E muitas dessas escolas, que têm um histórico de valorização de conteúdos, passam muitas atividades, muitos exercícios para as crianças. Algumas dão conta com tranquilidade, mas outras se sentem sobrecarregadas o que gera certa resistência, redundando em dificuldade para cumprirem as obrigações passadas e criando alguma tensão entre pais e filhos.
Realmente a situação é muito nova e todos estão de alguma forma estressados, deprimidos, sem ter certeza de nada. Então, é a hora do bom senso acima de tudo.
Manter as aulas, estabelecer uma rotina de compromisso com os estudos e com a escola é louvável e necessário, eu diria. Mas vamos saber dosar. As escolas oferecerem um planejamento que oportunize momentos descontraídos. As aulas on-line síncronas são muito propícias para o uso de várias ferramentas e recursos facilitadores do processo. O professor precisa ter em mente que a “sala de aula” de seus alunos é a casa deles. E oferecer atividades que se coadunem com o ambiente familiar. Os pais precisam organizar um cantinho, por menor que seja, para a criança se conectar com o professor, cantinho que se transforma em “sala de aula”. Há que se estabelecer uma rotina e os pais precisam ter um momento de disponibilidade para tirarem dúvidas e apoiarem os trabalhos escolares, orientando as crianças, se necessário.
As escolas que optaram por aulas on-line assíncronas precisam torná-las interessantes e atraentes para captar a atenção e o envolvimento das crianças. E não exagerarem nas tarefas e exercícios.
É preciso levar em consideração que o momento é difícil para todos e que as crianças se ressentem do distanciamento da escola, dos amigos. É preciso que haja algo prazeroso nas aulas para que se obtenha bom rendimento. Equilíbrio e bom senso para evitar atritos. A escola precisa lembrar que nem todos os pais estão aptos a complementarem o ensino dos filhos. Podem apoiar, mas nem sempre complementar. Então, muito cuidado se for dar matéria nova. Cuidado com a linguagem, com os recursos, com a necessidade de concretizar o máximo possível se se tratar de alunos do Fundamental 1. Se a aula é assíncrona, então, atenção redobrada porque o professor não está vendo a reação dos alunos.
Educação Infantil ou pré-escola requer aulas com histórias, músicas, movimento, envolvimento máximo possível. Alegria é bom.
Uma coisa é certa – as escolas que não se prepararam tecnologicamente tiveram mais dificuldades. Patinaram até engrenar e agora precisam entender que a tecnologia veio pra ficar com ferramentas e processos que são facilitadores da aprendizagem. A tecnologia não substitui o professor. Acho que isso está bem claro, mas não pode haver retrocesso e as escolas precisam ter preparo tecnológico se quiserem se manter ativas.
Não sabemos quando tudo se normalizará. Não sabemos como será o resto do ano, mas nada será como antes. Isso é certo.
Conteúdo é importante, claro, mas como trabalhar para ir além, para que o aluno aprenda a aprender é fundamental. E creio que o momento pelo qual estamos passando é um passo importante para se refletir sobre como se dá o processo ensino-aprendizagem. Refletir também sobre o papel da escola para além dos conteúdos.
Aprender a aprender e continuar aprendendo para o resto da vida. E estamos aprendendo muito no enfrentamento do isolamento social a que o Covid19 nos obrigou. Concordam?