A construção da autonomia na criança

Alzira Willcox

Ao nascer, a criança é totalmente dependente e mesmo desamparada, precisando dos pais, dos adultos à sua volta para se desenvolver. E à medida que o tempo passa, ela vai tomando consciência de si e rompendo barreiras, evidenciando as suas conquistas. Em cada estágio, a criança começa a desenvolver sensações que a levam a perceber a si mesma e o mundo. A perceber o que é essencial para interagir com o mundo. Vêm as surpresas. Diminui gradativamente a dependência dos pais. E aí?
Você vai continuar fazendo tudo pelo seu bebê? Vai correr para ajudá-lo a encaixar um bloco que ele não está conseguindo? E, mais tarde, continuar ajudando seu filho a amarrar o cadarço do sapato? Ou na adolescência antecipar-se às suas necessidades e continuar a fazer por ele aquilo que ele há muito poderia fazer por conta própria?
Seja qual for a idade do seu filho é importante, fundamental mesmo, ajudá-lo a se tornar independente e confiante em suas competências e habilidades. É preciso que os pais e adultos em geral fiquem atentos para propiciar o desenvolvimento da autonomia desde cedo. E como isso é possível? Em primeiro lugar, ensinando adequadamente aquilo que a sua idade e desenvolvimento permitem. Observar e estimular as suas tentativas para realizar uma tarefa e nunca fazer por ele. Apenas orientá-lo para que ele possa ganhar confiança.
Sei que a vida corrida das mães e dos pais acaba induzindo a que eles façam pelas crianças as tarefas do dia a dia. Vesti-los, calçá-los, dar comida na boca, mesmo se ele já fez sete anos. É a garantia da rapidez e do acerto. E aquela boa intenção de prepará-los para a autonomia se esgota na correria dos adultos.
De certa forma, as creches acabam dando conta desse objetivo, o que é bastante positivo para que as crianças se tornem independentes.
É preciso que os pais saibam o que esperar dos seus filhos em cada idade ou etapa do desenvolvimento. Exigir que eles façam coisas que não estão de acordo com o seu desenvolvimento pode causar frustrações. Então, vamos a algumas dicas.
• Crianças entre um ano e meio e três anos podem lavar suas mãos, aprender a usar o vaso sanitário, botar suas roupas no cesto de roupas sujas, sob a supervisão de um adulto.
• Por volta dos três anos, a criança já pode jogar coisas na lixeira, escovar os dentes com ajuda, ajudar a tirar da mesa utensílios inquebráveis.
• Aos quatro e cinco anos as crianças podem começar a se vestir sozinhas, mesmo que precisem de orientação para não calçar os sapatos com pés trocados ou vestir a blusa ou camisa de trás pra frente. Podem entender o sentido de direção, atender a pedidos para apanhar algum objeto ou jogo e seguir as rotinas simples do cotidiano.
Mais uma vez, não se trata de receita, mas apenas de observações que podem ajudar os pais a se sentirem mais seguros na orientação para o desenvolvimento da autonomia.
Na verdade, a melhor sugestão é: sejam claros, determinem passos simples, ao alcance da criança. Se você está ensinando uma nova habilidade ou estabelecendo uma rotina, crie facilidades para que ela possa seguir as instruções. Uma grande ajuda é estabelecer pequenos passos, explicando pausadamente cada um deles. Por exemplo, você está ensinando seu filho a lavar as mãos. O que são os pequenos passos?
1. Suba na plataforma (é bom ter uma plataforma pequena e segura para que a criança nela suba sem perigo e alcance a pia).
2. Gire a torneira para sair água.
3. Ponha sabão nas mãos.
4. Esfregue as mãos, uma na outra.
5. Ponha as mãos embaixo da água para tirar o sabão.
6. Agora, enxugue na toalha.
Esse é um exemplo bem simples e tosco para dar uma ideia do que sejam pequenos passos. É possível, bem provável até, que essas instruções tenham que ser repetidas algumas vezes. Você pode também realizar a tarefa, descrevendo-a para a criança. Servir de modelo.
Avançando um pouco mais no caminho para a autonomia, sugerimos dar à criança a possibilidade de escolha. Isso faz parte do processo de autonomia. Por exemplo, a roupa que ela vai vestir. Você pode perguntar: você prefere vestir a blusa vermelha ou a azul? Você quer usar tênis ou sapatos?
Na hora da comida, do lanche, oferecer opções. Você prefere banana ou maçã?
Nunca faça perguntas de grande amplitude ou generalizações do tipo – o que você quer para o lanche hoje? Ou “que roupa você quer usar?”. Esse não é um bom caminho porque pode gerar um motivo para que a criança assuma o comando, o que acontece com frequência.
E é bom lembrar que palavras de estímulo e encorajamento ajudam bastante a criança a se sair bem no aprendizado de uma nova habilidade.
Como tudo em matéria de educação, educar para a autonomia exige perseverança e discernimento. Em todas as idades, se desejamos que nossos filhos tenham o sentido de autonomia de forma construtiva para que sejam capazes de fazer escolhas sensatas pela vida afora, para que não precisem do apoio irrestrito dos pais em qualquer investimento ou desafio, temos que nos lembrar de estabelecer também limites claros. Limites que ajudem pais e filhos a se sentirem seguros e confortáveis.
Um dos segredos para o sucesso também é permitir, desde cedo, que seu filho lide bem com a frustração. Todos nós queremos ver o filho feliz, realizado e é doloroso vê-lo lidar com o erro e a decepção sem interferir. E esse é precisamente o maior dos obstáculos. O desprendimento surge quando o pai e a mãe permitem que desde criança o filho lide com a frustração. O que os pais devem fazer é incentivar a criança, desde bebê, a tentar resolver algo que tenha condições de resolver sozinho. Lembre-se sempre de propor à criança situações que estimulem a busca ativa por soluções. Esse é um bom caminho para que alcancem a autonomia à medida que crescem.